Hackers associados ao governo iraniano pesquisaram e observaram sites relacionados a eleições em diferentes estados dos EUA, para um possível esforço em descobrir vulnerabilidades que poderiam ser usadas para influenciar a eleição presidencial, informou a Microsoft em um relatório divulgado na quarta-feira (23).
Autoridades de várias agências federais têm observado atentamente a atividade iraniana, disse uma autoridade dos EUA à CNN.
A pesquisa de sites relacionados às eleições ocorrida em abril só foi descoberta recentemente pelos analistas da Microsoft. Os hackers também “conduziram o reconhecimento dos principais meios de comunicação dos EUA” em maio, de acordo com a Microsoft.
As agências de inteligência dos Estados Unidos avaliaram que o Irã tentou gerar discórdia durante as eleições de 2024, em parte através de atividades de hacking direcionadas à campanha do ex-presidente Donald Trump e em parte incentivando protestos contra a política dos Estados Unidos com relação a Israel.
Os analistas da Microsoft afirmam acreditar que o grupo de hackers iraniano “aumentará sua atividade à medida que a eleição se aproximar, dado o ritmo operacional do grupo e o histórico de interferência eleitoral”.
Esse é o sinal dos esforços recentes de vários grupos iranianos, russos e chineses para influenciar ou monitorar a eleição dos EUA na reta final da campanha presidencial.
Não há evidências de que o reconhecimento e a sondagem dos iranianos – que normalmente envolvem a busca de vulnerabilidades em sites – tenham se transformado em tentativas de invasão desses sites, disseram à CNN fontes familiarizadas com a investigação. A atividade não é uma ameaça a integridade da votação, mas tem várias proteções e verificações.
Diante disso, a preocupação das autoridades dos EUA e dos analistas do setor privado é que esse pode ser mais um esforço apoiado por estrangeiros para ampliar as suspeitas dos americanos sobre a votação. Os hackers podem vazar dados de registro de eleitores disponíveis publicamente, por exemplo, para tentar convencer as pessoas de que eles têm acesso a sistemas eleitorais mais sensíveis.
A Missão Permanente do Irã nas Nações Unidas negou as alegações em um comunicado.
“Desprovidas de qualquer credibilidade e legitimidade, essas alegações são fundamentalmente infundadas e totalmente inadmissíveis. A República Islâmica do Irã não se envolve em tumultos internos ou controvérsias eleitorais dos Estados Unidos”, afirmou.
“A perpetuação contínua de tais alegações infundadas servirá apenas para minar sua credibilidade”.
Essa notícia chega um dia depois que as agências de inteligência dos EUA divulgarem uma avaliação acusando agentes russos de criar e distribuir conteúdo de áudio viral no X que difamava o candidato democrata à vice-presidência, Tim Walz, e que foi amplamente divulgado por personalidades de direita.
As autoridades de inteligência dos EUA também estão preocupadas com a possibilidade de a Rússia e o Irã usarem a desinformação para tentar fomentar a violência durante os dias e semanas entre o dia da eleição e a certificação dos votos.
Em setembro, um grupo russo passou do Telegram para o X, onde seus vídeos manipulados atacando Harris ganharam mais força, de acordo com a Microsoft.
Um desses vídeos usou IA para retratar falsamente Harris fazendo pouco caso de uma das tentativas de assassinato de Trump e recebeu dezenas de milhares de visualizações no X, segundo o relatório.
Os analistas da Microsoft chamam o grupo de hackers que pesquisou sites relacionados às eleições de Cotton Sandstorm e acreditam que ele seja dirigido pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã. Os hackers não lançaram ainda uma operação de influência voltada para a eleição de 2024, de acordo com a Microsoft, mas seu histórico é uma preocupação para as autoridades dos EUA.
O mesmo grupo iraniano apresentou-se como o grupo de extrema direita Proud Boys para tentar intimidar os eleitores na eleição de 2020. Em 2020, hackers iranianos também sondaram sites relacionados a eleições em diversos estados e, em um dos casos, acessaram dados de registro de eleitores como parte de uma tentativa de influenciar e prejudicar a eleição presidencial dos EUA.
Outro grupo apoiado pelo IRGC hackeou documentos mantidos pela campanha presidencial de Trump e os vazou para a mídia.
A China não montou um esforço conjunto para influenciar a eleição presidencial, mas tem como alvo pelo menos 10 eleições parlamentares, estaduais ou locais através de campanhas secretas nas redes sociais, de acordo com as agências de inteligência dos EUA.
O novo relatório da Microsoft ainda mostra evidências de agentes chineses buscando prejudicar agressivamente os candidatos ao Senado e à Câmara com publicações no X.
“Concordo com a avaliação de que devemos esperar mais do Irã, mesmo que seja infeliz e ineficaz como seus esforços em 2020”, disse Chris Krebs, que foi chefe da Agência Federal de Segurança Cibernética e Infraestrutura durante a eleição de 2020, à CNN.
“Continuamos vendo – seja com os iranianos, russos ou chineses – que as operações de informação são mais um incômodo do que um divisor de águas”, disse Krebs. “Mas elas são baratas, escalonáveis e não há muitas consequências.”
Os eleitores americanos, disse Krebs, “devem prever um ambiente de informações barulhento nos próximos meses e não se deixar levar pelo caos”.