A expansão da guerra na Faixa de Gaza para a o Líbano mostra “um padrão familiar de desrespeito à lei”, segundo pontuou Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, durante sessão do Conselho de Segurança da ONU nesta terça-feira (29).
“A ordem internacional pós-guerra está desabando sob nossa vigilância. As fundações postas após dois conflitos mundiais estão sendo erodidas”, alertou o chanceler no início do discurso.
Vieira também afirmou que as ações de Israel após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro são uma “punição coletiva e obliteração”.
“Presenciamos violação flagrante da lei humanitária internacional em Gaza. Áreas civis são alvos desproporcionais e indiscriminados em operações militares, levando à destruição de infraestrutura crítica e fome para pessoas inocentes”, destacou em outro momento.
Ele lembrou que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu uma ordem para que Israel adote medidas para prevenir atos de genocídio, e que o Conselho de Segurança aprovou uma resolução exigindo cessar-fogo em Gaza.
O ministro brasileiro comentou que, “quando diretivas obrigatórias dos órgãos políticos e legais mais altos são ignoradas com impunidade”, a consequência é “mais perda de vidas e destruição inimaginável”.
Assim, Vieira reforçou os pedidos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por reforma da ONU e seus órgãos, incluindo o Conselho de Segurança.
“Uma conferência de revisão da Carta pode parecer ambiciosa, mas reflete o espírito que fundou a ONU. O Artigo 109 deixa claro que nenhum sistema deve permanecer estático em um mundo em constante mudança. O dever do Conselho é proteger toda a humanidade, não apenas atender a alguns poucos”, ressaltou.
Ações contra agências da ONU
Mauro Vieira também comentou os ataques de Israel a duas agências da ONU: a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês) e a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil).
Na segunda-feira (28), o Parlamento de Israel aprovou uma lei proibindo a UNRWA do país.
Sobre isso, o chanceler destacou que o Brasil repudia a medida, afirmando que ela é um precedente perigoso.
“Ao tentar desmantelar serviços essenciais para os palestinos, essas leis agravam o sofrimento de um povo já devastado e contrariam o pedido da Corte Internacional de Justiça para que Israel facilite o acesso a assistência humanitária em Gaza”, disse.
Recentemente, a ONU denunciou que suas forças de paz no Líbano foram atacadas por forças israelenses. Israel negou ter como alvo deliberado as tropas das Nações Unidas.
Entenda a escalada nos conflitos do Oriente Médio
O ataque com mísseis do Irã a Israel no dia 1º de outubro marcou uma nova etapa do conflito regional no Oriente Médio. De um lado da guerra está Israel, com apoio dos Estados Unidos. Do outro, o Eixo da Resistência, que recebe apoio financeiro e militar do Irã e que conta com uma série de grupos paramilitares.
São sete frentes de conflito abertas atualmente: a República Islâmica do Irã; o Hamas, na Faixa de Gaza; o Hezbollah, no Líbano; o governo Sírio e as milícias que atuam no país; os Houthis, no Iêmen; grupos xiitas no Iraque; e diferentes organizações militantes na Cisjordânia.
Israel tem soldados em três dessas frentes: Líbano, Cisjordânia e Faixa de Gaza. Nas outras quatro, realiza bombardeios aéreos.
O Exército israelense iniciou uma “operação terrestre limitada” no Líbano no dia 30 de setembro, dias depois de Israel matar o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um bombardeio ao quartel-general do grupo, no subúrbio de Beirute.
As Forças de Defesa de Israel afirmam que mataram praticamente toda a cadeia de comando do Hezbollah em bombardeios semelhantes realizados nas últimas semanas.
No dia 23 de setembro, o Líbano teve o dia mais mortal desde a guerra de 2006, com mais de 500 vítimas fatais.
Ao menos dois adolescentes brasileiros morreram nos ataques. O Itamaraty condenou a situação e pediu o fim das hostilidades.
Com o aumento das hostilidades, o governo brasileiro anunciou uma operação para repatriar brasileiros no Líbano.
Na Cisjordânia, os militares israelenses tentam desarticular grupos contrários à ocupação de Israel ao território palestino.
Já na Faixa de Gaza, Israel busca erradicar o Hamas, responsável pelo ataque de 7 de outubro que deixou mais de 1.200 mortos, segundo informações do governo israelense. A operação israelense matou mais de 40 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas.
O líder do Hamas, Yahya Sinwar, foi morto pelo Exército israelense no dia 16 de outubro, na cidade de Rafah.
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