Morreu nesta quinta-feira (24), em Brasília, o cineasta e documentarista Vladimir Carvalho, aos 89 anos. Ele estava internado em um hospital no Distrito Federal com problemas renais.
Vladimir nasceu na Paraíba em 1935.
Na Universidade Federal da Bahia, onde cursou filosofia, conheceu o cineasta Glauber Rocha e fez parte do movimento do cinema novo. Na capital federal, foi professor titular da UnB, Universidade de Brasília.
Em 1971, o longa metragem “O País de São Saruê” foi censurado do Festival de Cinema de Brasília, o que causou uma repercussão no País, comandado à época pelos militares. Em sinal de protesto, a mesa diretora do festival, responsável pelo julgamento, se demitiu.
Vladimir é autor de outros curtas e documentários, como “O Homem de Areia”; “O Evangelho Segundo Teotônio”. “Teotônio”; “O Engenho de Zé Lins”, sobre o escritor paraibano José Lins do Rego; “Conterrâneos Velhos de Guerra”, que conta a história da construção de Brasília.
Em 2022, Vladimir Carvalho concedeu uma entrevista à CNN e falou sobre o documentário dele que retrata a vida e as condições dos operários na construção de Brasília. “Conterrâneos Velhos de Guerra” mostra imagens de operários que foram mortos na construção de prédios na capital federal, como o Banco Central. Vladimir em 2021 recebeu o jornalista da CNN Leandro Magalhães no acervo dele na W3 Sul, em Brasília.
“Recebi umas fitas de um amigo que gravou as imagens de operários que caíam durante a construção de Brasília e morriam soterrados. Isso aconteceu em vários locais, como no Congresso, no Banco Central. Vivíamos uma ditadura e, quando morria um operário, o governo tentava esconder a informação. Guardei as fitas que recebi com as imagens para um dia usar em um documentário que conta o outro lado da história de Brasília: o lado dos operários. E eu usei”, afirmou à CNN.
Vladimir Carvalho também relatou à CNN o desejo de doar o espaço com todo o acervo dele à UnB. Mas afirmou que sentiu dificuldade com a instituição pública.
“Meu desejo era doar esse espaço à UnB. Fui atrás, tentei. Mas a universidade disse que teria gasto e que o processo seria burocrático. Ora, quero doar meu espaço com os livros, os filmes que retratam a história de Brasília. Não quero que isso se apague no tempo. Mesmo eu sendo professor da universidade, tive dificuldade”.
Nas redes sociais, escritores e autoridades lamentaram a morte de Vladimir Carvalho. O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes lembrou o legado da obra do artista.
“Manifesto pesar pelo falecimento de Vladimir Carvalho, um dos mais importantes nomes do cinema nacional. Suas obras, como “O País de São Saruê”, retratam a história e a realidade brasileira. Um legado que ficará marcado na cultura do país. Meus sentimentos aos familiares”.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) afirmou que o cineasta contribuiu para mudar a linguagem cinematográfica brasileira.
“Referência do cinema brasileiro, o professor Vladimir Carvalho dedicou sua arte para denunciar injustiças e dar voz aos desassistidos numa época de censura e de perseguição política. Contribuiu para mudar a linguagem cinematográfica brasileira, formou uma geração de aguerridos cineastas, levou e enobreceu o nome de Brasília no cenário cultural internacional. Que Deus receba seu espírito e conforte os familiares e amigos.
Decreto luto de três dias no Distrito Federal”.
À CNN, a escritora brasiliense Leiliane Rebouças, que participa do Seminário Brasília Porto, em Lisboa, Portugal, também lamentou a morte.
“Vladimir foi o cineasta que deu voz aos candangos. Que melhor mostrou as contradições e desigualdades sociais promovidas pelo Estado na concepção de Brasília”.