O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) negou o pedido de liberdade do policial militar Vinicius de Lima Britto, nesta segunda-feira (9). Ele é acusado de matar de o jovem negro Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, pelas costas, em 3 de novembro deste ano.
A família de Gabriel afirmou que o jovem foi morto pelo policial – que estava de folga – em um supermercado na zona sul de São Paulo mesmo sem oferecer qualquer ameaça a ninguém.
Segundo a decisão da juíza Michelle Porto, não houve nenhuma alteração do panorama dos fatos desde a solicitação da prisão do policial. A magistrada aponta que a ação de Vinicius ainda indica um modus operandi violento e descontrolado. Em decisão, a juíza também negou o pedido de decretação de segredo de justiça do caso.
Relembre o caso
Gabriel Renan da Silva Soares foi executado pelas costas pelo policial militar Vinicius de Lima Britto. Conforme registro da ocorrência, a vítima foi atingida por 11 disparos, na noite do dia 3 de novembro, após tentar furtar alguns produtos de limpeza em um mercado Oxxo, na Avenida Cupecê, no bairro Jardim Prudência.
A versão inicial apresentada pelo PM era de que o jovem teria feito menção de estar armado, o que, na versão dele, justificaria os disparos. Um atendente do mercado corroborou essa narrativa, alegando que Gabriel teria dito: “Não mexe comigo, que estou armado, não quero nada do que é seu.”
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Entretanto, as novas imagens mostram que o jovem, que havia acabado de furtar itens de limpeza, escorregou quando tentou sair correndo do mercado e que em nenhum momento fez menção de estar armado. No circuito também é possível concluir que não houve diálogo, e que o policial acertou a vítima pelas costas. Assista:
Prisão
Na última sexta-feira (6), o policial militar foi preso, em São Paulo. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) havia autorizado a prisão do agente na quinta-feira (5). De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), o agente será conduzido ao Presídio Romão Gomes após audiência de custódia.
Segundo a juíza Michelle Porto especificou no documento, a conduta do agente de segurança “excedeu em muito os limites de sua atividade, em flagrante deturpação da finalidade da Polícia Militar.” Ela também ressalta que a prisão “é garantia da ordem pública.”
Reprovação em teste psicológico
Vinicius de Lima Britto já havia sido reprovado em um exame psicológico ao tentar ingressar na Polícia Militar pela primeira vez. A avaliação, realizada durante um concurso público para soldado de 2ª classe, em 2021, apontou problemas de sociabilidade e descontrole emocional.
Apesar da reprovação inicial, Britto conseguiu entrar na corporação no mesmo ano, após ser aprovado em um segundo concurso. Nesse intervalo, ele chegou a entrar com um mandado de segurança contra o resultado do primeiro teste, alegando subjetividade na análise, mas a Justiça negou o pedido e o processo foi extinto.
A CNN teve acesso ao laudo reservado que detalha os motivos da primeira reprovação. O documento de nove páginas afirma que Britto apresentou “inadequação aos parâmetros exigidos no perfil psicológico estabelecido para o cargo”.
Entre os pontos críticos, os especialistas apontaram dificuldade de sociabilidade e instabilidade em relações interpessoais. “Tais características contraindicam o candidato para o cargo, pois poderão comprometer sua capacidade de perceber e reagir adequadamente às demandas da função”, afirma um trecho do laudo.
Dois psicólogos que assinam o documento ainda destacaram que Britto tem uma personalidade instável, com maior aptidão para atividades em ambientes calmos. “Isso tende a dificultar a manutenção e o cumprimento de suas obrigações conforme esperado”, detalha o relatório.
Afastamento
A execução de Gabriel não foi o único episódio letal envolvendo o policial militar. O jovem de 26 anos não esboçou reação nem fez menção de estar armado, como inicialmente alegado pelo PM.
Conforme revelado pelo portal “O joio e o trigo” e confirmado pela CNN com base em documentos judiciais, em dezembro do ano passado, Britto esteve envolvido em outro caso com desfecho fatal, desta vez em São Vicente, litoral paulista. Segundo sua versão, ele estava em um carro com a namorada, enquanto outro militar, amigo dele, estava de moto com a namorada.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o policial foi afastado das atividades operacionais após executar Gabriel e que caso as apurações apontem para a responsabilização criminal do policial militar, medidas administrativas serão adotadas, incluindo a possibilidade de processo disciplinar que poderá resultar na sua exclusão da Instituição.
*Sob supervisão