A mobilização da Coreia Norte com a Rússia para ajudar na guerra contra a Ucrânia tem o potencial de prolongar o conflito que já dura dois anos e meio e atrair outros, disse o Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, nesta quarta-feira (30).
Cerca de 10 mil forças norte-coreanas já foram enviadas para o leste da Rússia, vestindo uniformes e carregando equipamentos russos, disse Austin, no que ele acrescentou que cada vez mais parecia uma mobilização para dar suporte às operações de combate da Rússia na região de Kursk, perto da fronteira com a Ucrânia.
As forças ucranianas fizeram uma grande incursão em Kursk em agosto e dominaram centenas de quilômetros quadrados de território lá.
Após conversas com seu colega sul-coreano no Pentágono, Kim Yong-hyun, Austin chamou a mobilização de uma “escalada perigosa e desestabilizadora”.
“Isso tem o potencial de prolongar o conflito ou ampliá-lo”, expressou o secretário aos repórteres.
Questionado sobre o que ele quis dizer com ampliar o conflito e se outros países poderiam se juntar à luta, Austin respondeu cautelosamente: “Isso poderia encorajar outros a tomar diferentes tipos de ação… Há uma série de coisas que poderiam acontecer.”
“Se a Coreia do Norte ajudar a guerra da Rússia, as tropas norte-coreanas podem esperar ser alvos de tropas ucranianas usando armas fornecidas pelos Estados Unidos e seus aliados, e alguns provavelmente morrerão no campo de batalha”, acrescentou.
“Se eles estão lutando ao lado de soldados russos, então são co-beligerantes, e temos todos os motivos para acreditar que serão mortos e feridos como resultado disso”, completou.
A Coreia do Sul alertou que Pyongyang aprenderia lições valiosas com suas tropas se envolvendo em combate e testemunhando a guerra moderna ao ajudar a Rússia, e isso constitui uma ameaça militar direta à Coreia do Sul.
Falando ao lado de Austin, Kim alertou que, em troca da implantação, a Coreia do Norte, provavelmente buscaria tecnologia russa em armas nucleares táticas, submarinos de mísseis balísticos e mísseis balísticos intercontinentais.
“Acredito que isso pode resultar na escalada das ameaças à segurança na península”, disse Kim, falando por meio de um tradutor.
A Coreia do Sul disse que está considerando enviar uma equipe de monitores militares à Ucrânia para observar e analisar a implantação esperada da Coreia do Norte, algo que Kim disse que seria uma grande oportunidade de aprender mais sobre as forças norte-coreanas.
“Se não enviarmos nossos observadores ou equipes de análise, isso significaria que não estamos fazendo nosso trabalho fielmente”, afirmou.
O conflito na Ucrânia eclodiu quando a Rússia invadiu seu vizinho em fevereiro de 2022 e desde então se desenvolveu em uma guerra de atrito travada em grande parte ao longo das linhas de frente no leste da Ucrânia, com inúmeras baixas em ambos os lados.
Os Estados Unidos disseram que a mobilização norte-coreana pode ser mais uma evidência de que o presidente russo, Vladimir Putin, estava tendo dificuldades para preencher as fileiras militares após mais de 600 mil baixas até agora, de acordo com estimativas dos EUA.
Lloyd Austin observou que a Rússia já estava tentando repor seus estoques de armas recorrendo à Coreia do Norte e ao Irã.
“Sabemos que Putin tem feito malabarismos para obter armas da (Coreia do Norte) e do Irã. Recorrer a um estado pária como a Coreia do Norte apenas ressalta o quanto ele está em apuros”, disse o secretário de defesa.
Ele e Kim pediram aos norte-coreanos que retirassem suas forças. Mas não estava claro se havia alguma medida que Washington ou seus aliados poderiam tomar para impedir que Pyongyang se juntasse à guerra.
“Isso é algo que continuaremos observando e continuaremos trabalhando com aliados e parceiros para desencorajar a Rússia de empregar essas tropas em combate”, disse Austin.
Putin não negou o envolvimento de tropas norte-coreanas na guerra, mas disse que era problema da Rússia como implementar um tratado de parceria que ele e o líder norte-coreano Kim Jong Un assinaram em junho.
A Coreia do Norte não reconheceu a mobilização, mas disse que se tal medida da qual a “mídia mundial” estava falando fosse verdade, seria feita conforme a lei internacional.