Um estudo recente mostra que a má gestão de resíduos sólidos poderá custar ao Brasil R$ 130 bilhões em 2050 se seguir com uma má gestão dos resíduos.
A pesquisa, elaborada pela consultoria internacional S2F Partners e que usou o mesmo método aplicado pela Organização das Nações Unidas, considerou alguns fatores. Entre eles estão a baixa adesão à reciclagem e o excesso de lixo que vai parar em aterros sanitários, além da existência de lixões – que já deveriam ter sido extintos no país.
Hoje, o Brasil pode ser considerado um mal gestor na questão dos resíduos, segundo especialistas, por conta da baixa taxa de reciclagem dos resíduos no país.
Diante deste cenário, hoje o Brasil gasta cerca de R$ 90 bilhões de reais por ano com os custos indiretos do modelo atual de tratamento de resíduos, são as chamadas “externalidades”, que decorrem da baixa reciclagem.
De acordo com o estudo, se nada for feito para mudar o cenário, os gastos em 2050 com as externalidades custarão cerca de R$ 130 bilhões aos cofres públicos.
É um prejuízo de R$ 115 bilhões, já que se o país cumprir as metas estabelecidas na Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305/10, que prevê uma taxa de reciclagem de mais de 50%, as externalidades não passariam da casa dos R$ 15 bilhões em 2050.
“Esses impactos de contaminação do solo, contaminação das águas, emissões de poluentes na atmosfera, a questão de depleção da camada de ozônio, acidificação dos mares, tudo causado por essa destinação inadequada de resíduos sólidos acaba sendo transformado num custo monetário”.
Quem explica sobre o que são as externalidades é Carlos Silva Filho, presidente da International Solid Waste Association (ISWA) e um dos autores da pesquisa.
“E se fizermos então essa tendência, essa perspectiva para 2050, esse custo chega a mais de 130 bilhões de reais só com as externalidades, sem contar os custos pra tratamento dos problemas de saúde causados por essa má gestão de resíduos”, continua.
Atualmente, 30 milhões de toneladas de resíduos que deveriam receber uma destinação correta são encaminhados todos os anos a lixões e aos chamados aterros controlados, que enterram os resíduos. Mas a medida ainda está longe do que prevê o plano nacional de resíduos sólidos, que tem como meta aumentar a reciclagem nas próximas duas décadas.
Especialistas em Meio Ambiente indicam que o solo do aterro sanitário, independentemente de preparo ou de isolamento, possui um limite para receber grandes quantidades de lixo por muito tempo – ainda mais considerando que muitos dos resíduos ali depositados poderiam ter uma outra destinação.
Além disso, os resíduos acomodados nos aterros podem trazer impactos preocupantes, como a poluição dos lençois freáticos, em caso de vazamento.
“O primeiro passo é encerrar o lixão e encerrar essas práticas de destinação inadequada, inclusive com os tais aterros controlados que não passam de lixões maquiados”, argumenta Carlos Silva Filho.
“Na sequência, nós precisamos avançar na recuperação dos resíduos como um recurso, ou seja, avançar com a recuperação da fração seca, mas também é muito importante que a gente passe a endereçar também a valorização da fração orgânica, e resíduo orgânico é metade dos resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil”, continua.
No Brasil, o índice de reaproveitamento de resíduos sólidos está parado entre 3 e 4% há mais de dez anos. O número é bem abaixo da média global, que está em 19%, segundo o estudo da S2F Partners.
“Nós temos nos resíduos sólidos urbanos, cerca de 46% matéria orgânica, 33% fração seca. Este material é potencialmente recuperável, ele tem um valor. E de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, somente rejeito deve ir para aterro sanitário, aterro licenciado, obra de engenharia. Nós teremos então que sair de 4% de recuperação pra 48% em pouco menos de 20 anos, contar de hoje. Então a tarefa é bastante desafiadora, demanda ações concretas e demanda investimentos efetivos”, diz Silva Filho.
Já Pedro Jacobi, professor titular senior do Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEA-USP), destaca a questão cultural envolvendo o descarte irregular de resíduos no Brasil.
“A má coleta de resíduos se reflete diretamente na qualidade de vida urbana, nas condições de observar ao percorrer muitas cidades os resíduos que ficam simplesmente jogados no meio da rua. E que as pessoas acabam vendo um pouco de resíduo e… jogam mais ainda. Tem uma questão também cultural mesmo, não?”, observa.
Entre as alternativas para diminuir o volume de resíduos que vão para os aterros sanitários estão medidas como a reciclagem e a compostagem.
Outras iniciativas, como incentivos ao consumo sustentável e a reutilização de embalagens e de outros produtos, também ajudariam a melhorar a situação. É a chamada economia circular.
“Quando estamos falando da economia circular, temos que pensar que temos a possibilidade de reciclar, de reaproveitar. E isso também é uma perspectiva fundamental, porque ao reaproveitar certo tipo de material, eu vou reduzir também o impacto da extração de muitos tipos de insumos”, diz Jacobi.
“Não são iniciativas novas, já existem muitas experiências e tudo isso pode ser claramente incorporado dentro de uma perspectiva de reduzir significativamente o volume de resíduos que vai para os aterros”, completa o professor.