A empresa de energia russa Gazprom disse que bombearia um volume reduzido de gás para a Europa via Ucrânia na terça-feira (31). Esse é último dia antes do término de um acordo que manteve o gás fluindo durante quase três anos de guerra.
A menos que haja um acordo surpresa de última hora, os fluxos de gás provavelmente serão interrompidos em 1º de janeiro, após o término do acordo de trânsito de cinco anos entre a Rússia e a Ucrânia, marcando uma perda quase completa do outrora poderoso domínio de Moscou sobre o mercado europeu de gás.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse em 26 de dezembro que não havia mais tempo neste ano para assinar um novo acordo sobre o trânsito de gás via Ucrânia.
Os compradores restantes de gás russo, como Eslováquia e Áustria, providenciaram suprimentos alternativos e analistas preveem impacto mínimo no mercado devido à interrupção do fluxo de gás russo.
O preço no Title Transfer Facility, um ponto de negociação virtual na Holanda que é usado como referência para os preços do gás natural na Europa, subiu apenas ligeiramente na terça-feira para 48,85 euros por megawatt-hora no final da manhã.
Interromper o fluxo de gás teria um significado geopolítico muito maior.
Moscou perdeu sua fatia dominante no fornecimento de gás para países da União Europeia para rivais como Estados Unidos, Catar e Noruega desde a invasão da Ucrânia em 2022, o que levou o bloco europeu a reduzir sua dependência do gás russo.
A Gazprom, que já foi a maior exportadora de gás do mundo, registrou um prejuízo de US$ 7 bilhões somente em 2023, seu primeiro prejuízo anual desde 1999.
Para a Europa, a perda do fornecimento de gás russo barato contribuiu para uma grande desaceleração econômica, um aumento na inflação e um agravamento da crise do custo de vida.
Embora a Europa tenha sido rápida em encontrar fontes alternativas de energia, a perda do gás russo exacerbou preocupações de longo prazo sobre o declínio de sua competitividade global e, em particular, sobre o futuro industrial da Alemanha.
Impacto da guerra na Ucrânia
A Rússia e a União Soviética passaram meio século construindo uma grande fatia do mercado europeu de gás, que no seu auge chegou a 35%, mas a guerra na Ucrânia praticamente destruiu esse negócio para a Gazprom.
A maioria das rotas de gás russas para a Europa estão fechadas, incluindo Yamal-Europa via Belarus e Nord Stream sob o Báltico, que foi explodido em 2022.
O gasoduto da era soviética via Ucrânia traz gás da Sibéria pela cidade de Sudzha – agora sob o controle de soldados ucranianos – na região de Kursk, na Rússia. Ele então flui pela Ucrânia até a Eslováquia. Na Eslováquia, o gasoduto se divide em ramificações que vão para a República Tcheca e a Áustria.
Kiev se recusou a negociar um novo acordo de trânsito.
A Ucrânia está abrindo mão de cerca de US$ 800 milhões por ano em taxas da Rússia, enquanto a Gazprom perderá cerca de US$ 5 bilhões em vendas de gás para a Europa via Ucrânia.
É improvável que o fim do acordo de trânsito cause uma repetição do aumento do preço do gás na União Europeia em 2022, pois os volumes restantes são relativamente pequenos.
A Rússia enviou cerca de 15 bilhões de metros cúbicos de gás via Ucrânia em 2023 — apenas 8% do pico de fluxo de gás russo para a Europa por meio de várias rotas em 2018-2019.
A Gazprom disse que enviaria 37,2 milhões de metros cúbicos na terça-feira (31), em comparação com 42,4 milhões de metros cúbicos na segunda-feira (30).
A interrupção do fornecimento via Ucrânia será um grande golpe para a Moldávia, um país que já fez parte da União Soviética.
A Hungria continuará a receber gás russo do sul, através do gasoduto TurkStream, no leito do Mar Negro, embora tenha demonstrado interesse em manter também a rota ucraniana.