O Hamas parabenizou o povo da Síria nesta segunda-feira (9) por alcançarem suas “aspirações por liberdade e Justiça” após o fim do regime de Bashar al-Assad.
Esse é o primeiro comentário público do grupo palestino desde que as forças rebeldes invadiram a capital síria, Damasco, no domingo (8), após um avanço relâmpago que fez Assad fugir para a Rússia.
“Estamos firmemente com o grande povo da Síria e respeitamos a vontade, a independência e as escolhas políticas do povo da Síria”, pontuou o grupo armado que governa a Faixa de Gaza em uma declaração.
O Hamas ressaltou que espera que a Síria pós-Assad continue “seu papel histórico e fundamental no apoio ao povo palestino”.
Relação conturbada entre Hamas e Assad
O grupo apoiou publicamente a revolta dos muçulmanos sunitas de 2011 contra o governo de Assad e desocupou sua sede em Damasco em 2012, um movimento que irritou o Irã, um aliado de Assad e do grupo palestino.
O Hamas, cujas raízes ideológicas vêm da Irmandade Muçulmana Islâmica Sunita, se distanciou de Assad — um integrante da seita minoritária alauíta, um desdobramento do islamismo xiita — enquanto ele reprimia os manifestantes e rebeldes, principalmente muçulmanos sunitas.
Em 2022, eles decidiram restaurar os laços com o governo Assad e enviaram uma delegação a Damasco, onde os líderes do Hamas se encontraram com o presidente na esperança de consertar as relações.
Diferença na resposta entre Hamas e Hezbollah
A Síria e o Irã formaram um “eixo de resistência” com o Hezbollah do Líbano e grupos militantes palestinos para se opor a Israel.
A resposta positiva do Hamas à queda de Assad contrastou com a do Hezbollah muçulmano xiita, que desempenhou um papel importante apoiando o presidente durante anos de guerra.
A Síria de Assad serviu por muito tempo como um canal vital para o Irã fornecer armas ao grupo libanês.
Um político sênior do Hezbollah descreveu na segunda-feira os eventos na Síria como uma “grande, perigosa e nova transformação”.
Jihad Islâmica também se pronuncia
Em outra declaração, Ziad al-Nakhala, chefe da Jihad Islâmica, um grupo apoiado pelo Irã e aliado do Hamas, também abordou a relação com a Síria.
“A Jihad Islâmica espera que a Síria continue sendo um apoio real para o povo palestino, sua causa justa, como sempre foi”, disse Nakhala.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
Quem é a família de Bashar al-Assad, que governou a Síria por mais de meio século