O número de imigrantes que chegaram às Ilhas Canárias, na Espanha, em embarcações vindas da África Ocidental, chegou a 41.425 mil neste ano, informou o Ministério do Interior espanhol.
Com isso a ilha atinge um recorde anual histórico. Com isso, houve também um aumento no número de pessoas que morreram no trajeto, segundo números oficiais.
Em El Hierro, sudoeste do arquipélago, cerca de 33 imigrantes foram enterrados até agora. No ano passado esse número chegou a 11.
Em memória a Bathie Barry, um imigrante que morreu em 26 de outubro de 2024, pouco após chegar à ilha, moradores e autoridades se reuniram para prestar homenagem.
“Não se trata apenas de uma questão de fé ou religião; é algo muito maior. É uma questão de humanização”, afirmou o jornalista, Haridian Marichal, que faz parte do grupo de moradores que geralmente se reúnem para comprar flores e participar desses enterros, muitas vezes anônimos.
“Essas são as pessoas que não puderam continuar com seus projetos de vida e, infelizmente, são o outro lado da rota migratória das Canárias”, acrescentou.
Eles [os imigrantes] são “vítimas do sistema de imigração”, relatou Joke, um artista holandês que reside em El Hierro e trouxe um barco de papel cheio de flores em homenagem à perigosa jornada da pessoa falecida.
O único patologista da ilha apontou a desidratação e hipotermia como as principais causas de morte dos imigrantes.
O especialista apontou os perigos que as pessoas correm quando tentam criar uma nova vida em outro lugar, e como é difícil para as famílias ficarem em casa esperando notícias sobre seus entes queridos.
Em declaração o Ministério do Interior da Espanha, afirmou que entre janeiro e outubro houve um aumento de 12% das pessoas que vêm para as Ilhas Canárias. No mesmo período, 891 pessoas morreram ou estão desaparecidas.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) estima que essa rota é a segunda mais perigosa do mundo.
Crise
Enquanto os países europeus conseguem reduzir o número de chegadas – os imigrantes irregulares que chegaram à Europa no ano passado representaram apenas um terço do um milhão de pessoas observado durante a crise de 2015, e os números caíram ainda mais este ano.
E mesmo com a queda geral dos números no bloco, as Ilhas Canárias registraram o aumento mais rápido de imigrantes irregulares na UE entre janeiro e outubro, segundo dados da Frontex.
Por conta da fiscalização imigrantes tentam evitar as patrulhas da Guarda Costeira.
Em setembro, de uma embarcação com 84 pessoas, apenas 27 imigrantes foram encontrados vivos após naufragar, segundo a Guarda Costeira da Espanha. Este foi o pior naufrágio já registrado nas Canárias, afirmaram as autoridades locais.
Após a tragédia, nove corpos de vítimas foram recuperados e enterrados em El Hierro. Enquanto sete deles foram sepultados anonimamente.
“Estamos sempre lidando com um quebra-cabeça”, exclamou Haridian Marichal, que tem tentado ajudar a conectar imigrantes desaparecidos não identificados a famílias que procuram seus entes queridos.
“Talvez eles não tenham morrido nem sobrevivido, mas, como em tantos casos, possivelmente desapareceram no Atlântico e não temos notícias”, acrescentou.
Outra dificuldade relatada pela coordenadora interina do Projeto de Imigrantes Desaparecidos da OIM, Andrea Garcia Borja, a identificação de imigrantes desaparecidos é “extremamente difícil”.
“Isso envolve a travessia de mais de uma fronteira internacional ou o desaparecimento em águas internacionais, por exemplo.” complementou Andrea.
Condições climáticas adversas do oceano podem facilmente virar as frágeis balsas e botes usados pela maioria dos imigrantes na rota do Atlântico, considerada particularmente perigosa.