Um estudo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) revelou contaminação por microplásticos em todos os cação-rabo-seco, também conhecido como cação-figuinho (Rhizoprionodon porosus), capturados no litoral de Pernambuco ao longo de um ano.
A pesquisa analisou 135 tubarões, nos quais foram encontrados microplásticos no estômago e intestino, principalmente fibras azuis e filmes pretos, resíduos da atividade pesqueira e industrial na região. A espécie é inofensiva e comum na costa brasileira.
A pesquisa, liderada pelo mestre Roger Rafael Cavalcanti, aponta que a contaminação está associada ao padrão alimentar do cação-rabo-seco, que consome pequenos animais do estuário, igualmente contaminados.
“A maioria das espécies estuarinas demonstrou contaminação por microplásticos. Dessa forma, quando elas ficam disponíveis na região costeira para serem predadas pelo Rhizoprionodon porosus, ele acaba se contaminando pelo microplástico que estava na presa. Esse microplástico está inserido no ecossistema de forma cíclica e, provavelmente, não há mais como retirá-lo”, explica o pesquisador.
A ingestão desses materiais levanta preocupação para o consumo do cação-rabo-seco por humanos, especialmente entre comunidades ribeirinhas e pescadores, uma vez que os microplásticos podem carregar substâncias tóxicas como mercúrio.
“Em nossa convivência com a equipe de pescadores, observamos que essa população ribeirinha consome muito o Rhizoprionodon porosus, por ser um dos tubarões mais facilmente capturados. Essa carne pode estar contaminada e talvez não seja segura para consumo”, alerta o pesquisador.
Os resultados do estudo, que deram origem à dissertação de Roger, também indicaram que a contaminação foi mais intensa nos tubarões capturados próximos ao litoral, aumentando durante o período chuvoso, com exceção dos adultos, mais afetados durante a seca.
Para obter a conclusão, Roger analisou o comportamento alimentar dos tubarões levando em consideração as estações de chuva e seca, a distância do litoral e a fase de desenvolvimento da espécie.
A pesquisa contou com o apoio do Laboratório de Ecologia e Gerenciamento de Ecossistemas Costeiros e Estuarinos (Legece), do Departamento de Oceanografia e do Departamento de Estatística, ambos da UFPE, além do Instituto de Macromoléculas Eloisa Mano, do Rio de Janeiro.
Segundo os pesquisadores, os dados levantados são fundamentais para desenvolver estratégias de preservação da espécie, especialmente no que se refere à contaminação por metais pesados, que será investigada em estudos futuros. “Os dados indicam a necessidade de apoio e novos estudos envolvendo a zona costeira pernambucana”, conclui o pesquisador Roger Rafael Cavalcanti.