O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta quinta-feira (5) que não acredita que um acordo de cessar-fogo e reféns seja provável na Faixa de Gaza, em uma dura repreensão à insistência do governo de Joe Biden de que um acordo está próximo.
“Não há um acordo em andamento. Infelizmente, não está próximo”, disse Netanyahu à Fox News.
Esses comentários contrastam fortemente com a mensagem incansavelmente otimista do governo americano nos últimos meses.
No domingo (1º), Biden destacou que as partes estavam à beira de um acordo e, na quarta-feira (4), um funcionário do alto escalão da administração democrata comentou que 90% do acordo já havia sido concluído.
Isso, segundo Netanyahu, é “exatamente impreciso”.
A rejeição de Netanyahu é o mais recente exemplo de uma série de comentários públicos nesta semana do primeiro-ministro israelense que lançam dúvidas sobre o possível acordo.
Autoridades dos EUA têm sido relutantes em criticar diretamente Netanyahu, mesmo que ele tenha repetidamente se afastado da posição do governo Biden e lançado dúvidas sobre seu comprometimento com um possível acordo.
Um funcionário do Conselho de Segurança Nacional americano reconheceu nesta quinta-feira “frustrações” no processo, ao mesmo tempo que insistiu que um acordo está próximo.
“É exatamente impreciso. Há uma história, uma narrativa por aí, de que há um acordo”, pontuou primeiro-ministro israelense sobre a declaração da autoridade americana no dia anterior, que afirmava que “basicamente, 90% desse acordo já foi acertado”.
EUA reforçam otimismo
No domingo (1°), quando Israel anunciou que os corpos de seis reféns foram encontrados executados pelo Hamas, Biden ainda argumentou que os negociadores estavam “à beira de um acordo”.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, reafirmou essas avaliações em comentários à imprensa nesta quinta-feira, dizendo: “90% – à beira de um acordo. Você chama isso de otimismo, eu chamo de precisão”.
Perguntado sobre os comentários de Netanyahu, Kirby disse: “Simplesmente não vou entrar em um debate público através de vocês na imprensa com o primeiro-ministro Netanyahu”.
“Eu só diria que esse processo tem sido às vezes complicado. Enfrentamos contratempos e mais contratempos, e sem dúvida, nós, aqui na administração, estamos frustrados por ainda não termos conseguido concluir este acordo”, disse ele.
“Há muitas razões para isso, mas não vou mentir e dizer que não estamos frustrados. Claro que estamos. Queremos ver os reféns em casa o mais rápido possível”,adicionou.
“Mas também diria que, por mais frustrante que tenha sido em alguns momentos, e por mais inúteis que tenham sido — não apenas comentários públicos, mas até mesmo manobras privadas no processo de negociação — para o fechamento do acordo, não diminuiu em nada o compromisso do presidente Biden de tentar levar isso adiante”, ponderou Kirby.
O porta-voz também rejeitou a ideia de que o governo americano está excessivamente otimista sobre as perspectivas de um acordo, ressaltando que “acreditamos que fizemos um progresso imenso nos últimos meses em termos de estabelecer a estrutura do acordo, mas nada está negociado até que tudo esteja negociado”.
Uma autoridade de alto escalão da administração Biden disse nesta quarta-feira que a maioria dos detalhes da primeira fase do acordo já havia sido resolvida.
Os pontos pendentes, disse, estão relacionados à retirada das forças israelenses dentro de Gaza, afastando-se das áreas povoadas, e à troca de reféns por prisioneiros palestinos.
“Além disso, é basicamente isso”, comentou.
Sobre a troca de prisioneiros, a autoridade acusou o Hamas de adicionar novas “exigências inaceitáveis” para os prisioneiros que querem ver soltos.
“O que o Hamas tem exigido aqui, os israelenses avançaram para atender aos termos da melhor maneira possível. E o Hamas, francamente, neste assunto, tivemos um processo bastante frustrante”, comentou.
A autoridade afirmou que a recente execução de seis reféns pelo Hamas impacta as negociações em andamento e põe em dúvida a disposição do Hamas em chegar a um acordo.
Sobre para onde as tropas das Forças de Defesa de Israel (FDI) devem se mover durante a primeira fase de um acordo, o acordo em discussão não menciona a extensão da fronteira entre o Egito e Gaza, conhecida como o Corredor Filadélfia, afirmou a autoridade a repórteres na quarta-feira.
Em vez disso, afirma que, na primeira fase, as FDI devem se retirar de “áreas densamente povoadas”, disse o funcionário. Israel argumenta que a fronteira não é uma dessas áreas e é vital para evitar que armas sejam contrabandeadas para Gaza.
Netanyahu faz exigências
Benjamin Netanyahu concedeu duas coletivas de imprensa nesta semana para argumentar que manter o controle permanente do Corredor da Filadélfia, na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, é vital para a segurança de Israel.
“O primeiro objetivo da guerra era destruir as capacidades militares e de governo do Hamas. O segundo era libertar nossos reféns, e o terceiro era garantir que Gaza nunca mais represente uma ameaça para Israel. E todos os três objetivos — todos os três — passam pelo controle israelense do Corredor Filadélfia”, alegou o premiê na quarta-feira.
Essa ênfase no Corredor Filadélfia nas recentes declarações públicas de Netanyahu não tem sido construtiva, destacou a autoridade do governo dos EUA.
Nesta quinta-feira, Netanyahu afirmou que o Hamas “não concorda com nada. Nem com o Corredor Filadélfia, nem com as propostas para a troca de reféns por terroristas presos, nem com nada. Então essa é apenas uma narrativa falsa”.
O Hamas, por sua vez, pontua que o primeiro-ministro tem usado “manobras evasivas e enganosas” para evitar chegar a um acordo sobre um cessar-fogo em Gaza.
O chefe da equipe de negociação da organização, Khalil Al-Hayya, destacou em um discurso divulgado no Telegram que a “série de manobras evasivas e enganosas praticadas por Netanyahu para fugir da obrigação de chegar a um acordo sobre um cessar-fogo está agora totalmente exposta aos mediadores, à administração americana, à opinião pública global e até ao público (israelense)”.
Jornal diz que Netanyahu bloqueou acordo
Netanyahu enfrenta acusações crescentes de que bloqueou propositalmente um acordo com o Hamas.
O jornal israelense Yedioth Ahronoth, citando um documento que obteve, relatou que Netanyahu, em julho, efetivamente interrompeu um rascunho de um acordo de reféns e cessar-fogo ao introduzir uma série de novas exigências de última hora.
Vários veículos de notícias, incluindo a CNN, relataram as exigências feitas por Netanyahu no final de julho, mas esta é a primeira vez que o documento israelense foi obtido na íntegra.
Na entrevista à Fox News, Netanyahu rejeitou as alegações de que ele impediu um acordo.
“O obstáculo para o fim desta guerra é o Hamas. O obstáculo para a libertação dos reféns é o Hamas. Aqueles que mataram brutalmente, assassinando seis pessoas a sangue-frio, crivando-as de balas e depois disparando balas em suas cabeças é o Hamas. Não é Israel. Não sou eu”, alegou.
Ele também foi questionado sobre relatos de que as famílias de reféns americanos ainda detidos pelo Hamas estão pressionando o governo dos EUA para buscar unilateralmente a libertação de seus entes queridos.
“Eu não sei. Sabe, eu não julgo as famílias. Elas estão passando por uma enorme angústia”, comentou.
Um funcionário da administração Biden disse à CNN nesta quinta-feira que os EUA não fizeram nenhuma oferta ao Hamas na tentativa de garantir a libertação de reféns americanos mantidos em Gaza, observando que os EUA não têm influência para um acordo unilateral com o grupo.
“Por causa das exigências do Hamas, não houve uma oferta formal para um acordo paralelo, porque tal acordo não é possível”, ressaltou a fonte.
*Com informações de Abeer Salman, Tim Lister e MJ Lee, da CNN.