Israel supervisionou o deslocamento forçado em massa de palestinos na Faixa de Gaza em uma campanha deliberada e sistemática que equivale a um crime de guerra e um crime contra a humanidade, segundo um novo relatório da Human Rights Watch (HRW).
O documento de 154 páginas, publicado pelo grupo de advocacia sediado nos EUA nesta quinta-feira (14), detalha mais de 13 meses de destruição generalizada em Gaza que, conforme as Nações Unidas, viu o deslocamento de cerca de 1,9 milhão de palestinos — mais de 90% da população do território.
Em declaração, a HRW citou demolições “ilegais, deliberadas e controladas de casas e infraestrutura civil” pelas forças israelenses no território.
“Onde eles têm objetivos aparentes de criar ‘zonas de proteção’ e ‘corredores’ de segurança, dos quais os palestinos provavelmente serão permanentemente deslocados“.
Nadia Hardman, pesquisadora de direitos de refugiados e migrantes da HRW, disse que “o governo israelense não pode alegar que está mantendo os palestinos seguros quando os mata ao longo de rotas de fuga, bombardeia as chamadas zonas seguras e corta alimentos, água e saneamento”.
Para Hardman, Israel está violando “descaradamente sua obrigação de garantir que os palestinos possam retornar para casa, arrasando virtualmente tudo em grandes áreas”.
Em resposta ao relatório, o exército israelense disse nesta quinta-feira (14) que está “comprometido com o direito internacional e opera de acordo”, emitindo ordens de deslocamento para proteger civis do combate.
Os militares israelenses também negaram que houvesse qualquer “doutrina que visasse causar o máximo de dano à infraestrutura civil, independentemente da necessidade militar”,
Afirmaram que quaisquer “relatórios e reclamações sobre a violação do direito internacional” são encaminhados a um órgão de revisão interno.
Crimes de guerra
Israel foi acusado por vários grupos de direitos humanos — e investigadores da ONU — de conduta militar que poderia equivaler a crimes de guerra no ano passado, o que foi veementemente negado. O Hamas também foi acusado.
Em outubro, um inquérito da ONU disse que Israel tinha uma “política concertada” de destruir o sistema de saúde em Gaza no que ele disse que equivalia a crimes de guerra.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel chamou essas acusações de “ultrajantes” e disse que eram “outra tentativa flagrante da (comissão) de deslegitimar a própria existência do Estado de Israel e obstruir seu direito de proteger sua população enquanto encobre os crimes de organizações terroristas”.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse anteriormente que “Israel não tem intenção de ocupar Gaza permanentemente ou deslocar a população civil“.
No domingo (10), o ministro das Relações Exteriores israelense, Gideon Sa’ar, afirmou que os palestinos poderiam retornar para suas casas no norte de Gaza quando a guerra terminasse – mas não antes que os objetivos de Israel fossem alcançados.
Vários ministros israelenses, no entanto, disseram que gostariam de ver os palestinos deixarem Gaza e restabelecer os assentamentos israelenses lá.
“Devemos promover uma solução para encorajar a emigração dos moradores de Gaza”, disse o ministro da Segurança Nacional de extrema-direita, Itamar Ben-Gvir, em 1º de janeiro.
Já o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, de extrema-direita e que também ocupa um cargo no Ministério da Defesa, declarou que Israel “governará (em Gaza). E para governar lá com segurança por um longo tempo, devemos ter uma presença civil.”
O relatório da HRW vem depois que o Departamento de Estado dos EUA disse na terça-feira (12) que Israel não violou a lei dos Estados Unidos, mesmo após a passagem de um prazo de 30 dias para que tomasse medidas específicas para melhorar a situação humanitária em Gaza — uma postura que conflita com as descobertas de organizações de ajuda sobre a terrível realidade no enclave.
Agências de ajuda descreveram a situação no norte de Gaza como apocalíptica, com áreas em risco iminente de fome enquanto Israel trava uma ofensiva militar em andamento no território.
A Human Rights Watch disse que a campanha israelense no norte da Faixa de Gaza provavelmente levaria ao deslocamento de centenas de milhares de civis.
O grupo pediu que os países parassem com as vendas de armas para Israel e impusessem sanções ao estado judeu para forçá-lo a cumprir com suas obrigações internacionais de proteger civis.
Também apelou ao Tribunal Penal Internacional que investigasse o suposto deslocamento forçado de palestinos como um crime contra a humanidade.
Quase toda a população de Gaza foi deslocada em meio à nova ofensiva israelense