A realização de eleições na Síria pode levar até quatro anos, disse o líder da Síria, Ahmed al-Sharaa, no domingo (29). Essa é a primeira vez que ele comenta um possível calendário eleitoral desde que Bashar al-Assad foi deposto no início do mês.
A elaboração de uma nova constituição pode levar até três anos, disse Sharaa em uma entrevista à emissora estatal saudita Al Arabiya. Ele também disse que levaria cerca de um ano para que os sírios vissem mudanças drásticas.
A fala de Sharaa, que lidera o grupo Hayat Tahrir al-Sham, que derrubou Assad em 8 de dezembro, surge enquanto o novo governo de Damasco procura tranquilizar os países vizinhos e garantir que se afastou das raízes na militância islâmica.
A ofensiva relâmpago do grupo pôs fim a uma guerra civil de 13 anos, mas deixou uma série de incógnitas sobre o futuro de um país. A Síria é um território multiétnico, além de um país onde Estados estrangeiros, incluindo a Turquia e a Rússia, têm interesses fortes e potencialmente conflitantes.
Embora as potências ocidentais tenham saudado amplamente o fim do governo da família Assad na Síria, ainda não está claro se o grupo HTS vai impor um regime islâmico estrito ou mostrar flexibilidade e avançar em direção à democracia.
Sharaa disse que o HTS, anteriormente conhecido como Frente Nusra, seria dissolvido em uma conferência de diálogo nacional.
“Um país não pode ser governado pela mentalidade de grupos e facções”, disse Sharaa.
O grupo já foi afiliado ao Estado Islâmico e à Al-Qaeda, mas desde então procurou reposicionar-se como uma força de moderação.
O HTS prometeu proteger grupos minoritários, que temem que os novos governantes possam tentar impor um governo islâmico, e alertou contra tentativas de incitar conflitos sectários.
Segundo Sharaa, a conferência de diálogo nacional incluiria uma ampla participação da sociedade síria com votações sobre questões como a dissolução do parlamento e da constituição.
Sobre a situação no nordeste da Síria, Sharaa disse que há negociações com todas as partes para resolver as disputas restantes, incluindo com as Forças Democráticas Sírias Curdas (SDF), aliadas dos Estados Unidos.
Ele disse que as armas deveriam estar apenas sob o controle do Estado, acrescentando que o Ministério da Defesa acolheria bem aqueles capazes de ingressar no exército.
Na entrevista, Sharaa disse que a Síria compartilha interesses estratégicos com a Rússia, um aliado próximo de Assad que tem bases militares no país.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que o status das bases militares da Rússia seria objeto de negociações com a nova liderança em Damasco.
Sharaa disse que as relações da Síria com a Rússia deveriam servir interesses comuns.
Ele também afirmou que espera que a administração do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, suspenda as sanções impostas à Síria. Altos diplomatas americanos que visitaram Damasco este mês disseram que Sharaa parecia pragmático, e que Washington decidiu remover uma recompensa de US$ 10 milhões pela cabeça do líder do HTS.
Em resposta a uma pergunta sobre as preocupações dos Estados vizinhos sobre os grupos islâmicos, ele disse: “Não trabalharemos na exportação da revolução. Queremos governar com a mentalidade do Estado e não da revolução”, disse Sharaa, reiterando que o HTS está interessado em estabelecer relações estratégicas com todos os Estados regionais.