O ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter morreu, neste domingo (29), aos 100 anos. Seu mandato à frente do país, entre 1977 e 1981, foi de altos e baixos.
Por um lado, mediou os acordos de Camp David, levando a um tratado de paz entre Egito e Israel, e estabeleceu relações diplomáticas plenas entre os EUA e China. Por outro, enfrentou uma recessão econômica e uma das maiores crises da política externa americana: o sequestro da embaixada em Teerã.
Em 4 de novembro de 1979, meses após a Revolução Islâmica no Irã, estudantes tomaram a embaixada e capturaram 66 americanos. O sequestro ocorreu dias depois de os EUA permitirem a entrada no país do xá do Irã, Reza Pahlavi, que havia sido deposto pelos revolucionários.
Os estudantes exigiam a extradição do xá, um aliado dos EUA cujo regime autoritário motivou uma série de protestos nos meses que precederam a revolução. O sequestro recebeu o apoio público do aiatolá Khomeini, o líder do Irã desde o começo de 1979.
Em um primeiro momento, Carter tentou asfixiar o Irã financeiramente, congelando ativos do país em bancos americanos. A medida não fez efeito.
Em abril de 1980, os EUA romperam todas as relações diplomáticas com o Irã e impuseram novas sanções econômicas. No mesmo mês, a Casa Branca autorizou uma tentativa de resgate militar dos reféns, a Operação Garra de Águia. A operação terminou com um acidente aéreo e oito militares americanos mortos.
No fim de 1980, tornou-se pública a negociação entre EUA e Irã para a libertação dos reféns. O acordo só saiu em 19 de janeiro de 1981: o grupo seria solto em troca da liberação dos ativos iranianos congelados pelo governo americano.
Ao longo do sequestro, os iranianos chegaram a soltar 14 reféns, mas 52 permaneceram 444 dias em cativeiro. A libertação deles veio no dia da posse do novo presidente dos EUA, o republicano Ronald Reagan, em 20 de janeiro de 1981.
Mandato turbulento
O fracasso do governo Carter na crise dos reféns foi um dos principais fatores que custaram ao democrata sua reeleição.
Em 2015, quando anunciou à imprensa que passaria por um tratamento para um câncer no cérebro, Carter foi perguntado se teria feito algo diferente como presidente.
“Eu queria ter enviado mais um helicóptero para buscar os reféns. Nós teríamos resgatado eles, e eu teria sido reeleito”, declarou.
Um ano antes, Carter disse que poderia ganhar a reeleição se atacasse militarmente o Irã, mas não quis fazê-lo para não matar inocentes. “Em retrospecto, acho que tomei a decisão correta, mas não foi fácil na época”, afirmou à CNBC dos EUA.
No entanto, quando a embaixada em Teerã foi tomada, Carter já estava enfraquecido. Segundo o instituto Gallup, entre maio e novembro de 1979, a aprovação popular do democrata nunca passou de um terço do eleitorado. Em setembro daquele ano, uma pesquisa do jornal Washington Post deu a ele a mais baixa aprovação para um presidente americano em três décadas.
Durante o governo Carter, os EUA tiveram alguns dos mais altos índices de inflação e desemprego do pós-Segunda Guerra. Em 1980, o país enfrentou uma recessão econômica. O panorama econômico negativo teve relação direta com a crise energética vivida pelos EUA desde o começo dos anos 1970, com o primeiro choque do petróleo.
Carter colocou como prioridade a redução da dependência dos EUA ao petróleo estrangeiro. Conseguiu diminuir o consumo e desenvolver reservas de emergência, mas isso não impediu a economia do país de sofrer as consequências do segundo choque do petróleo, em 1979, quando a Revolução Islâmica interrompeu a produção no Irã.
Com tudo isso, Reagan ganhou de Carter nas eleições de 1980 com ampla vantagem. O democrata só venceu em sete dos 50 estados americanos.