Cerca de quatorze integrantes da polícia síria foram mortos em uma “emboscada” por forças leais ao governo deposto na região rural de Tartous, disse a administração de transição no início desta quinta-feira (26). Manifestações e um toque de recolher noturno em outros lugares marcaram as mais recentes turbulências no país desde a queda de Bashar al-Assad há mais de duas semanas.
O novo ministro do Interior da Síria disse no Telegram que 10 policiais também foram feridos pelo que ele chamou de “remanescentes” do governo de Assad em Tartus, prometendo reprimir “qualquer um que se atreva a minar a segurança da Síria ou colocar em perigo as vidas de seus cidadãos.”
Anteriormente, a polícia síria impôs um toque de recolher na cidade de Homs, informou a mídia estatal, após distúrbios ligados às manifestações que os moradores disseram serem liderados por integrantes das comunidades religiosas minoritárias alauítas e xiitas.
A Reuters não pôde confirmar imediatamente as exigências dos manifestantes nem o grau de perturbação que ocorreu.
Alguns moradores disseram que as manifestações estavam ligadas à pressão e violência nos últimos dias dirigidas contra integrantes da minoria alauíta, uma seita há muito vista como leal a Assad, derrubado pelos rebeldes em 8 de dezembro.
Os porta-vozes da nova administração governante da Síria, liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), uma antiga afiliada da Al Qaeda, não responderam imediatamente aos pedidos de comentários sobre o toque de recolher.
Os meios de comunicação estatais disseram que o toque de recolher estava sendo imposto por uma noite, das 18h até às 8h da manhã no horário local.
Os novos líderes do país têm prometido repetidamente proteger grupos religiosos minoritários, que temem que os antigos rebeldes agora no controle possam tentar impor uma forma conservadora de governo islâmico.
Pequenas manifestações também ocorreram em outras áreas na costa da Síria ou perto dela, onde a maioria da minoria alauíta do país vive, incluindo em Tartous.
As manifestações ocorreram na mesma época em que um vídeo sem data circulou nas redes sociais mostrando um incêndio dentro de um santuário alauíta na cidade de Aleppo, com homens armados andando por lá e posando perto de corpos.
O ministério do Interior disse em sua conta oficial no Telegram que o vídeo remonta à ofensiva rebelde em Aleppo no final de novembro e a violência foi realizada por grupos desconhecidos, acrescentando que quem estava circulando o vídeo agora parecia estar tentando incitar conflitos.
O ministério também disse que alguns integrantes do antigo regime atacaram forças do ministério do interior na região costeira da Síria na quarta-feira, deixando um número de mortos e feridos.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
Saiba quem é o líder rebelde sírio e o grupo que derrubou Bashar al-Assad