Um tribunal chinês condenou à pena de morte com suspensão por dois anos um homem que atropelou uma multidão em frente a uma escola primária no sul da China no mês passado, deixando mais de 30 pessoas feridas, incluindo 18 alunos. O ataque faz parte de uma série de episódios violentos que abalou o país e levou autoridades a intensificarem as medidas de segurança.
O motorista, identificado como Huang Wen, foi condenado por um tribunal na cidade de Changde, na província de Hunan, conforme noticiado pela agência de notícias Xinhua na segunda-feira (23).
De acordo com a lei chinesa, a suspensão significa que a pena de Huang pode ser convertida para prisão perpétua, dependendo de seu comportamento durante o período de dois anos.
O tribunal informou que Huang realizou o ataque para desabafar sua frustração após perdas financeiras e conflitos familiares.
Após o atropelamento, Huang saiu do veículo e atacou pedestres com uma arma antes de ser capturado.
Um vídeo circulando nas redes sociais e geolocalizado pela CNN mostrou dezenas de crianças em pânico gritando e correndo para o pátio da escola, com uma voz masculina ao fundo gritando “rápido, rápido”.
Outro vídeo mostrava várias pessoas, incluindo adultos, caídas na estrada, aparentemente feridas. A polícia podia ser vista algemando um homem em frente a um veículo.
Imagens do incidente que circulavam online foram rapidamente removidas das plataformas de redes sociais, enquanto as seções de comentários em postagens relacionadas ao caso foram desativadas.
“Huang Wen escolheu um número indefinido de alunos inocentes de uma escola primária como seus principais alvos, demonstrando um motivo desprezível e extrema maldade”, disse o tribunal em um comunicado.
Série de ataques
O incidente em Changde ocorreu pouco mais de uma semana depois que a China presenciou o ataque mais letal conhecido em uma década, quando 35 pessoas foram mortas após um homem atropelar uma multidão de pessoas que se exercitavam em um centro esportivo ao ar livre na cidade de Zhuhai, no sul do país.
O suspeito, um homem de 62 anos, foi preso enquanto tentava fugir do local. Uma investigação inicial sugeriu que ele estava insatisfeito com o resultado de um acordo de divórcio, segundo a polícia.
Oito pessoas também foram mortas e 17 outras ficaram feridas em um ataque em massa com facas em um campus universitário no leste da China em 16 de novembro.
Episódios repentinos de violência direcionados aleatoriamente ao público – incluindo a crianças – aumentaram na China nos últimos meses, à medida que o crescimento econômico desacelera, deixando a população, acostumada com taxas baixas de crimes violentos e vigilância constante, cada vez mais desconfortável.
Alguns usuários das redes sociais começaram a alertar uns aos outros para se atentarem a pessoas que se tornam mais desesperadas e instáveis, chamando os recentes ataques de um ato de “vingança contra a sociedade”.
O descontentamento público tem crescido na China devido à economia em dificuldades, que enfrenta vários problemas, desde o setor imobiliário em crise até a baixa confiança do consumidor e o alto desemprego juvenil.
As autoridades implementaram algumas medidas de estímulo, mas muitos especialistas afirmam que elas não são suficientes para impulsionar a demanda doméstica tão necessária e reviver a economia.
Os recentes surtos de violência deixaram os principais oficiais da China inquietos.
Em resposta ao ataque de Zhuhai, o líder chinês Xi Jinping pediu aos oficiais que “prevenissem os riscos na fonte” e “resolvessem rapidamente conflitos e disputas” para evitar que tais incidentes aconteçam novamente.
No mês passado, o principal juiz da China pediu aos oficiais do tribunal que impusessem punições rápidas e severas para ataques violentos ao público.
O principal promotor do país também se comprometeu no mês passado a “resolver conflitos, gerenciar riscos e manter a estabilidade social” e a manter “tolerância zero” para crimes que colocam em risco a segurança dos estudantes.