O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou nesta quinta-feira (19) que os ataques aéreos israelenses na Síria são uma violação da soberania e integridade territorial do país e “devem parar”.
Desde uma ofensiva rebelde relâmpago que depôs o presidente sírio Bashar al-Assad no início deste mês, Israel realizou centenas de ataques aéreos, alegando que o objetivo era destruir armas estratégicas e infraestrutura militar.
“A soberania da Síria, a unidade territorial e a integridade devem ser totalmente restauradas, e todos os atos de agressão devem cessar imediatamente”, disse Guterres aos jornalistas.
As tropas israelenses também entraram em uma zona desmilitarizada entre a Síria e as Colinas de Golã, ocupadas por Israel – uma área criada após a guerra árabe-israelense de 1973 e patrulhada por capacetes azuis da ONU.
Oficiais israelenses descreveram o movimento como uma medida limitada e temporária para garantir a segurança das fronteiras de Israel, mas não indicaram quando as tropas poderiam ser retiradas.
“Deixe-me ser claro: Não deve haver forças militares na área de separação, além dos capacetes azuis da ONU – ponto final. Israel e a Síria devem cumprir os termos do Acordo de Desengajamento de Forças de 1974, que permanece plenamente em vigor”, afirmou Guterres.
Ele também disse que as Nações Unidas estão focadas em facilitar uma transição política “inclusiva, credível e pacífica” na Síria e em permitir a distribuição de ajuda para combater uma das maiores crises humanitárias do mundo.
“Este é um momento decisivo – um momento de esperança e história, mas também de grande incerteza”, disse.
Guterres alertou que alguns atores podem tentar explorar a situação para seus próprios interesses, mas destacou que “é obrigação da comunidade internacional apoiar o povo sírio, que tanto sofreu. O futuro da Síria deve ser moldado pelo seu povo, para seu povo, com o apoio de todos nós”.
Ele também nomeou a advogada mexicana Karla Quintana para chefiar a Instituição Independente de Pessoas Desaparecidas na Síria e afirmou que sua equipe deve ser autorizada a cumprir totalmente seu mandato.
A Assembleia Geral da ONU criou essa instituição em 2023 para descobrir o que aconteceu com as pessoas desaparecidas e apoiar as vítimas, sobreviventes e suas famílias.
Quintana, que já trabalhou na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, dirigiu a Comissão Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas do México de 2019 até 2023.
A Comissão Internacional de Pessoas Desaparecidas, em Haia, informou que recebeu dados indicando que podem existir até 66 locais de sepultamentos em massa ainda não verificados na Síria. Mais de 150 mil pessoas são consideradas desaparecidas, segundo organizações internacionais e sírias, incluindo as Nações Unidas e a Rede Síria de Direitos Humanos.
A repressão violenta de Assad a manifestantes pacíficos pró-democracia em 2011 levou a uma guerra civil. Milhões de pessoas fugiram da Síria, além do enorme deslocamento dentro do país.