Israel agiu rapidamente após a queda de Bashar al-Assad na Síria para bombardear todos os ativos militares que o país quer manter fora das mãos dos rebeldes — atingindo quase 500 alvos, destruindo a Marinha e eliminando, segundo o governo de Benjamin Netanyahu, 90% dos mísseis terra-ar conhecidos da Síria.
Mas é a captura por Israel do pico mais alto da Síria, o cume do Monte Hermon, que pode estar entre as ações mais duradouras — embora autoridades tenham insistido que sua ocupação é temporária.
“Este é o lugar mais alto da região, olhando para o Líbano, para a Síria, para Israel”, destacou Efraim Inbar, diretor do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém (JISS).
“É estrategicamente extremamente importante. Não há substituto para montanhas”, adicionou.
O cume do Monte Hermon fica na Síria, em uma zona desmilitarizada que separou as forças israelenses e sírias por cinquenta anos — até o último fim de semana, quando as tropas israelenses assumiram o controle da área.
Até domingo (15), o cume era desmilitarizado e patrulhado por forças de paz da ONU, sua posição permanente mais alta no mundo.
O ministro da defesa de Israel, Israel Katz, ordenou que os militares se preparem para as duras condições de mobilização no inverno. “Devido aos acontecimentos na Síria, é de imensa importância para a segurança manter nosso controle sobre o cume do Monte Hermon”, alegou ele em um comunicado.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) avançaram além do cume, até Beqaasem, a cerca de 25 quilômetros da capital síria, de acordo com a Voice of the Capital, um grupo ativista sírio. A CNN não pôde confirmar essa alegação de forma independente.
Um porta-voz militar israelense negou nesta semana que as forças estivessem “avançando em direção” a Damasco.
Israel capturou as Colinas de Golã, um planalto estratégico no sudoeste da Síria que faz fronteira com o Monte Hermon, na guerra de 1967 e o ocupou desde então.
A Síria tentou retomar o território em um ataque surpresa em 1973, mas falhou, e Israel o anexou em 1981. A ocupação é ilegal sob a lei internacional, mas os Estados Unidos reconheceram a reivindicação de Israel sobre o Golã durante o governo Trump.
Israel tem controlado por décadas algumas encostas mais baixas do Monte Hermon, e até opera uma estação de esqui lá, mas o pico permaneceu na Síria propriamente dita.
“Não temos intenção de intervir nos assuntos internos da Síria”, anunciou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em um vídeo dias após Israel bombardear centenas de alvos sírios e tomar a zona desmilitarizada.
“Mas certamente pretendemos fazer tudo o que for necessário para cuidar da nossa segurança”, adicionou.
Monte Hermon é trunfo para Israel
O cume do Monte Hermon é um tremendo trunfo sob o controle de Israel. Com 2.814 metros, é mais alto do que qualquer ponto na Síria ou Israel, e fica atrás apenas de um pico no Líbano.
“As pessoas às vezes dizem que, na era dos mísseis, a terra não é importante — é simplesmente falso”, avaliou Inbar.
Em um artigo acadêmico publicado em 2011, ele escreveu sobre as muitas vantagens apresentadas pelo Monte Hermon.
“Ele permite o uso de vigilância eletrônica em território sírio, dando a Israel capacidade de alerta antecipado em caso de um ataque iminente”, escreveu ele.
Alternativas tecnológicas avançadas como vigilância aérea, ele argumentou, simplesmente não eram comparáveis.
“Ao contrário de uma instalação em uma montanha, elas não podem carregar equipamentos pesados, como grandes antenas, e podem ser derrubadas por mísseis antiaéreos”, ponderou.
O pico fica a pouco mais de 35 quilômetros de Damasco, o que significa que o controle dele colocou a capital síria ao alcance de canhões de artilharia.
Líder rebelde da Síria acusa Israel
O líder rebelde sírio Mohammad al-Jolani acusou Israel de cruzar “as linhas de engajamento” com suas ações no país, enquanto um grupo de vizinhos do país pediu que o país que retirasse suas forças de todos os territórios sírios.
Após se reunir em Aqaba com autoridades da Turquia, Iraque, Egito e Comissão Europeia, o vice-primeiro-ministro da Jordânia, Ayman Safadi, acusou Israel de tentar explorar um vácuo de poder no país vizinho.
Safadi alertou que a estabilidade do país é um “pilar da segurança da região” e que se Israel não respeitar a soberania síria, arriscaria “uma explosão da situação”.
Netanyahu, enquanto isso, insistiu que sua “mão está estendida” ao novo governo na Síria. Mas, no mundo após o ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023, ele e outros funcionários importantes da área de segurança nacional deixaram claro que não vão correr riscos.
“Na maioria das vezes, é um conforto para nós”, ressaltou o brigadeiro-general aposentado Israel Ziv sobre as operações de Israel na Síria. “Aprendemos o que aconteceu em outros países quando você tem uma organização terrorista que captura equipamento militar”, complementou.
Netanyahu diz que ocupação na Síria é temporária
Benjamin Netanyahu também insistiu que a ocupação é temporária. “Israel não permitirá que grupos jihadistas preencham esse vácuo e ameacem comunidades israelenses nas Colinas de Golã com ataques no estilo de 7 de outubro”, pontuou.
Seus critérios para retirada dos militares da área, segundo destacou, são uma força síria “que esteja comprometida com o acordo de 1974 pode ser estabelecida e a segurança em nossa fronteira pode ser garantida”.
Não está claro quando isso pode ser alcançado.
Efraim Inbar, diretor do Instituto de Estratégia e Segurança de Jerusalém (JISS), avalia, por fim que a retirada dos militares israelenses da área “é uma decisão política”.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
*Mike Schwartz e Tim Lister contribuíram para esta reportagem
Saiba quem é o líder rebelde sírio e o grupo que derrubou Bashar al-Assad