A acusação mais séria contra o suspeito acusado de matar o CEO da UnitedHealthcare, Brian Thompson, em plena luz do dia na semana passada em uma calçada de Manhattan, é homicídio de segundo grau, mas pode ser aumentada se os promotores encontrarem evidências para provar que ele tinha a intenção de cometer terrorismo ao mirar outros executivos, segundo analistas legais.
Os investigadores afirmam que têm evidências crescentes contra Luigi Mangione, 26, conectando-o ao assassinato de Brian Thompson em 4 de dezembro.
A arma impressa em 3D e a identidade falsa encontradas com ele quando foi preso na Pensilvânia, na segunda-feira (9), correspondem a três cápsulas de balas encontradas na cena do crime, e suas impressões digitais correspondem às que os investigadores encontraram em itens perto da cena, conforme fala da comissária do Departamento de Polícia de Nova York, Jessica Tisch.
Mangione também carregava um documento, descrito como um “manifesto” que não incluía ameaças específicas, mas indicava “má vontade em relação à América corporativa”, contou o chefe de detetives do Departamento de Polícia de Nova York (NYPD na sigla em inglês), Joseph Kenny.
O acusado teve a fiança negada na terça-feira (10) e está lutando contra sua extradição para Nova York, onde enfrenta cinco acusações, incluindo homicídio de segundo grau, no assassinato de Thompson.
Ele também enfrenta acusações de porte de arma na Pensilvânia relacionadas à arma de fogo que a polícia diz ter encontrado com ele quando foi preso.
Segundo a lei do estado de Nova York, uma acusação de homicídio de primeiro grau só se aplica a uma lista restrita de circunstâncias agravantes — por exemplo, quando a vítima é um juiz, policial, socorrista ou quando o crime envolve um assassinato de aluguel ou intenção de cometer terrorismo, falaram vários especialistas jurídicos à CNN.
No caso de Mangione, ele pode ser acusado de homicídio de primeiro grau se a investigação descobrir evidências mostrando que ele tinha um plano para cometer terrorismo, como tramar o assassinato de outros executivos de seguros de saúde, explicou David Shapiro, palestrante do John Jay College of Criminal Justice.
Se condenado por homicídio de segundo grau, a pena pode variar de 15 anos de detenção à prisão perpétua, enquanto uma acusação de homicídio de primeiro grau acarreta um mínimo de 20 anos à prisão perpétua.
“O terrorismo é definido, basicamente, como criar, intimidar a população civil ou influenciar uma unidade do governo a agir de certa forma”, relatou Shapiro à CNN. “Você pode facilmente imaginar um conjunto de fatos onde Mangione estava tentando fazer o mesmo ou de fato fez. Tenho certeza que há uma série de executivos de companhias de seguros que têm medo de imitadores.”
Crime
A morte de Thompson – um marido e pai de dois filhos – expôs a fúria de muitos americanos em relação à indústria da saúde.
Mangione tem ganhado simpatia online e as pessoas têm feito ofertas para pagar suas contas legais.
O advogado de Mangione, Thomas Dickey, negou o envolvimento do cliente no assassinato de 4 de dezembro e antecipou que ele vai se declarar inocente de todas as acusações em Nova York, bem como as relacionadas à arma impressa em 3D e identidade que foi dito terem sido encontradas com ele.
Por que Mangione é acusado de assassinato em segundo grau
A maioria dos estados, incluindo Nova York, baseia suas leis penais no Código Penal Modelo, criado em 1962 para tornar as leis criminais mais uniformes entre os estados após serem desenvolvidas por estudiosos e advogados do direito com o Instituto de Direito Americano.
A ideia de premeditação foi “amplamente abandonada” em favor do uso de quatro estados básicos para determinar uma “mente culpada” – proposital, conhecedora, imprudente e negligente, segundo Shapiro.” Ele captura o que está realmente errado com o ato”.
No caso de Mangione, parece que ele estava planejando o assassinato por um tempo, afirmou o especialista, então a evidência desenvolvida no caso pode apontar para um ângulo de terrorismo.
Mangione parece ser movido pela raiva contra a indústria de seguros de saúde e contra a “ganância corporativa” na totalidade, conforme relatório da inteligência da polícia de Nova York, obtido na terça-feira (10) pela CNN.
“Ele parecia ver o assassinato do mais alto representante da empresa como uma derrubada simbólica e um desafio direto à sua suposta corrupção e ‘jogos de poder’, afirmando em sua nota que ele é o primeiro a enfrentá-lo com tanta honestidade”, diz a avaliação da NYPD, que foi baseado no “manifesto” do acusado e nas redes sociais.
Ter encontrado o suspeito com uma arma, identidade falsa e manifesto, indica que ele pode ter planejado ataques adicionais, falou Shapiro.
“Por que você iria querer carregar todas essas provas incriminadoras do que acabou de fazer? Talvez não porque seja que ele é estúpido, mas sim está planejando usar esse material novamente”, continuou.
Uma acusação de assassinato em segundo grau – mas não de homicídio em primeiro grau – permite ao réu uma “defesa afirmativa”, essencialmente um argumento para diminuir a gravidade da acusação a homicídio culposo em primeiro grau.
“Provavelmente, ele tem outros manuscritos, outras coisas publicadas nas redes sociais, outras discussões com pessoas que vão se manifestar sobre seus planos”, pontuou Shapiro.
É possível que o caso contra Mangione se torne federal, pois pode haver um argumento de que estava viajando por meio das fronteiras estaduais para cometer um ato de violência, que é um crime federal, segundo Elie Honig, analista jurídico sênior da CNN e ex-promotor federal e estadual.
Mas os promotores federais têm que determinar se as acusações são necessárias ou redundantes. Eles consideram se um réu está sendo acusado em outra jurisdição com o mesmo crime no tribunal estadual, contou Honig.
Os estatutos federais contêm penas muito mais graves – prisão perpétua obrigatória e pena de morte.
Por que o acusado pode estar lutando contra a extradição
Com Mangione lutando contra a extradição, um tribunal da Pensilvânia deu-lhe 14 dias para apresentar uma ordem de habeas corpus – colocando o ônus da prova sobre aqueles que detêm a pessoa para justificar a detenção. O tribunal agendará uma audiência se ele arquivar.
Os promotores da Pensilvânia têm 30 dias para obter um mandado do governador, que o governo de Nova York. Kathy Hochul pontuou que vai trabalhar com os promotores para assinar.
TO governador do estado, Josh Shapiro, disse “estar preparado para assinar e processar prontamente assim que for recebido.”
O Procurador-Geral do Condado de Blair, Peter Weeks, falou que seu escritório está preparado “para fazer o que for necessário” para levar Mangione de volta a Nova York.
Pode haver várias razões pelas quais Mangione está lutando contra sua extradição, expressou Karen Agnifilo, analista jurídica e advogada da CNN.
Isso lhe daria mais tempo para pensar sobre a defesa, ou exigir que os promotores apresentem mais provas em sua próxima audiência, ou tentar obter fiança na Pensilvânia, o que é improvável, segundo a advogada.
“Pode levar até dois meses antes que as autoridades levem Mangione de volta a Nova York depois que o mandado do governador for obtido”, explicou.
Shapiro, no entanto, disse que o processo de extradição deve ser resolvido dentro de 30 dias, dado o alto perfil do caso e o anúncio de Hochul de que ela está trabalhando para obter o mandado.
Assim que Mangione estiver em Nova York, ele será acusado e fará um apelo, para que os investigadores possam começar a produzir evidências e descobertas.
A prisão do suspeito é apenas a primeira parte do caso contra ele, falou Ken Corey, ex-chefe da polícia de Nova Iorque.
Os promotores do estado começarão a testar evidências forenses, analisando resultados de DNA e filmagens para montar uma linha do tempo para mostrar ao júri.
A maioria dos réus criminais que enfrentam julgamentos por acusações mais graves em outro estado renunciam ao direito de extradição, conforme Agnifilo.
“Oito ou nove vezes em cada dez, os réus renunciam à extradição porque percebem que isso é tão superficial, tão fácil e a maioria deles não quer languir na detenção no outro estado porque você ainda nem sequer pode lutar contra o seu caso”, relatou.
Mas em casos de assassinato como o de Mangione, Agnifilo diz, “não há nenhuma chance de ele ser solto, então ele está lutando contra a extradição.”