O principal comandante dos rebeldes da Síria que derrubaram Bashar al-Assad disse nesta quarta-feira (11) que qualquer pessoa envolvida na tortura ou morte de detentos durante o governo do presidente deposto será caçada e que perdões estão fora de questão.
“Nós os perseguiremos na Síria e pedimos aos países que entreguem aqueles que fugiram para que possamos fazer justiça”, afirmou Abu Mohammed al-Jolani em uma declaração publicada no canal do Telegram da TV estatal síria.
A comunidade internacional observa atentamente se os novos governantes da Síria conseguem estabilizar o país depois que uma guerra civil de 13 anos, travada em linhas sectárias e étnicas, o destruiu.
A Síria teve um dos governos mais opressivos do Oriente Médio durante cinco décadas de liderança da família Assad.
Jolani lidera o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), grupo ex-afiliado à Al Qaeda e que é hoje a força mais poderosa do país.
Ele deve equilibrar as exigências de justiça das vítimas com a necessidade de evitar a violência e garantir a ajuda internacional.
Reconstrução da Síria
O novo primeiro-ministro interino pontuou que pretende trazer de volta milhões de refugiados sírios, criar unidade e fornecer serviços básicos, mas a reconstrução será desafiadora.
“Nos cofres, há apenas libras sírias, que valem pouco ou nada. Um dólar americano compra 35 mil de nossas moedas”, ressaltou Mohammed al-Bashir ao jornal italiano Il Corriere della Sera.
“Não temos moeda estrangeira e, quanto a empréstimos e títulos, ainda estamos coletando dados. Então, sim, financeiramente estamos muito mal”, revelou Bashir.
Ele dirigiu anteriormente uma administração liderada por rebeldes em um bolsão do noroeste da Síria antes da ofensiva relâmpago que invadiu Damasco e derrubou o presidente Bashar al-Assad.
A reconstrução da Síria é uma tarefa colossal após uma guerra civil que matou centenas de milhares de pessoas.
Cidades foram reduzidas a ruínas por bombardeios, áreas rurais foram despovoadas e a economia foi destruída por sanções internacionais. Milhões de refugiados ainda vivem em campos após um dos maiores deslocamentos dos tempos modernos.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
Quem é a família de Bashar al-Assad, que governou a Síria por mais de meio século