O novo primeiro-ministro interino da Síria, Mohammed al-Bashir, disse que pretende “trazer de volta milhões de refugiados sírios, proteger todos os cidadãos e fornecer serviços básicos”, mas apontou que o país enfrenta dificuldades financeiras.
“Nos cofres, há apenas libras sírias que valem pouco ou nada. Um dólar americano compra 35.000 das nossas moedas”, destacou Mohammed al-Bashir ao jornal italiano Il Corriere della Sera.
“Financeiramente estamos muito mal”, ressaltou.
Bashir chegou a dirigir um partido liderado por insurgentes no noroeste da Síria, antes da ofensiva rebelde relâmpago que invadiu a capital Damasco e derrubou Bashar al-Assad, fazendo-o fugir para a Rússia, onde conseguiu asilo.
A reconstrução da Síria será difícil após uma guerra civil que matou centenas de milhares de pessoas. As cidades ficaram em ruínas devido aos bombardeios, áreas rurais foram despovoadas e a economia foi destruída por sanções internacionais. Milhões de refugiados ainda vivem em campos após um dos maiores deslocamentos dos tempos modernos.
Com os países europeus suspendendo os pedidos de asilo da Síria, alguns refugiados na Turquia e de outros lugares começaram a voltar para o país.
Autoridades norte-americanas, em contato com os rebeldes liderados pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), pediram para eles não assumirem a liderança imediatamente e, ao invés disso, conduzirem um processo inclusivo para formar um governo de transição.
O novo governo deve “manter compromissos claros de respeitar plenamente os direitos das minorias, facilitar o fluxo de assistência humanitária a todos os necessitados, impedir que a Síria seja usada como base para o terrorismo ou que represente uma ameaça aos países vizinhos”, afirmou o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, em um comunicado.
O HTS é uma antiga afiliada da Al Qaeda que liderou a revolta anti-Assad. Ultimamente, o grupo tem minimizado as raízes jihadistas, mas continua sendo designada como uma organização terrorista pela Organização das Nações Unidas (ONU), os Estados Unidos, a União Europeia, a Turquia e outros.
Em um breve discurso na televisão estatal na terça-feira (10), Bashir comentou que liderará a autoridade interina até 1º de março.
Atrás dele havia duas bandeiras – a bandeira verde, preta e branca hasteada pelos oponentes de Assad durante a guerra civil e uma bandeira branca com o juramento islâmico de fé escrito em preto, normalmente hasteada na Síria por combatentes islâmicos sunitas.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
*Com informações da CNN
Saiba quem é o líder rebelde sírio e o grupo que derrubou Bashar al-Assad