Especialistas do mundo todo se reuniram a última semana no E-Cigarette Summit, para discutir o mercado de cigarros eletrônicos, os chamados vapes. O evento foi realizado em Londres, capital do Reino Unido, um país onde estes dispositivos não apenas foram regulamentados, como são utilizados pelo Sistema Nacional de Saúde (NHS) como uma alternativa para reduzir os danos causados pelo tabagismo.
O programa, batizado de “swap to stop” – ou trocar para parar – consiste em fornecer vapes para fumantes que querem abandonar o cigarro, seguindo algumas regras estabelecidas pelo governo. A decisão de adotar este modelo foi tomada em 2023, com base em estudos que sugerem que os cigarros eletrônicos seriam menos prejudiciais à saúde do que os convencionais.
“Nós temos evidências robustas de muitos ensaios diferentes, que chegam à mesma conclusão: cigarros eletrônicos, ou vapes, são bons para ajudar as pessoas a parar de fumar. São mais eficazes do que as terapias de substituição de nicotina, mas, mais importante, são muito mais seguras do que o consumo tradicional de tabaco”, afirma a pesquisadora Sharon Cox, que integra o Grupo de Pesquisas de Tabaco e Álcool da University College of London.
“Portanto, alguém que fuma tabaco, uma das melhores coisas que pode fazer para melhorar sua saúde é tentar o vape, e passar a usá-lo por um longo prazo para ajudá-lo a parar de fumar”, acrescenta.
Outro assunto importante dominou as discussões: a regulamentação dos vapes. Especialistas afirmam que essa é uma forma de proteger o consumidor de produtos ilegais, que podem conter substâncias químicas nocivas e teores muito elevados de nicotina – uma substância altamente viciante. Além disso, regras efetivas poderiam limitar o acesso destes dispositivos por menores de idade.
Alan Boobis, professor do Imperial College London, explica os riscos associados à falta de regulamentação.
“Isso permite a entrada no mercado de produtos muito inferiores. E esses produtos podem estar substancialmente contaminados com substâncias que não encontramos em um produto legal. Por exemplo, vimos altos níveis de metais pesados em alguns vapes ilegais. A adulteração do líquido com drogas não ocorreria se fosse regulamentado”, afirma.
O especialista, que faz parte do Comitê de Toxicologia do Reino Unido, acredita que é preciso considerar o contexto da população fumante. “Acho que ter um grande mercado não regulamentado é uma receita para muitos danos potenciais. Se isso estiver acontecendo no contexto de uma grande população fumante, é necessário analisar cuidadosamente se uma legalização e regulamentação de vapes poderia ser uma solução melhor”.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, tanto os cigarros convencionais quantos os eletrônicos trazem riscos à saúde, e o mais seguro é não utilizar nenhum deles.
No Brasil, os vapes são proibidos pela Anvisa desde 2009. Isso não impede que os produtos sejam encontrados com facilidade em qualquer grande cidade do país. Mesmo assim, em maio deste ano, a Anvisa decidiu manter a proibição em vigor depois de um longo processo de revisão regulatória, que ouviu integrantes da sociedade civil, da área da saúde e da indústria, entre outros.
Mas a situação ainda pode mudar. Isso porque está em tramitação no Senado um projeto de lei que pretende criar regras para produção, comercialização e propaganda destes dispositivos no país.