Algumas das pessoas detidas na famosa prisão de Saydnaya, na Síria, esqueceram seus próprios nomes, disse um funcionário da Defesa Civil síria à CNN nesta terça-feira (10).
Farouq Habib, que é vice-gerente geral da organização voluntária também conhecida como Capacetes Brancos, contou a Eleni Giokos, da CNN, sobre as pessoas que estavam confinadas na prisão.
Elas incluem uma mulher que foi detida quando tinha 19 anos e teve três filhos enquanto estava em Saydnaya, depois de ser estuprada repetidamente, disse ele. As crianças nunca tinham visto a paisagem de fora dos muros da prisão até agora.
Outras pessoas, segundo Habib, “perderam a cabeça” ou se esqueceram de quem eram enquanto estavam encarcerados. Alguns não sabiam seus nomes ou de onde eram.
Busca por desaparecidos na Síria
Apesar das esperanças de que um grande número de pessoas desaparecidas fossem encontradas dentro da prisão, “apenas” alguns milhares estavam lá quando o regime de Bashar al-Assad entrou em colapso, de acordo com Habib.
A maioria dos outros detidos em Saydnaya “foram executados, enterrados em valas comuns ou transferidos para outros centros de detenção”, segundo a autoridade.
Rumores sobre celas escondidas enterradas no subsolo circularam, mas nenhuma foi encontrada, apesar das buscas dos Capacetes Brancos, pontuou Habib.
O grupo agora está procurando outras prisões secretas pelo país, oferecendo uma recompensa financeira por informações que possam levar à descoberta de alguma. Milhares de relatos foram recebidos até agora.
Pelo menos 200 mil sírios estão desaparecidos, a maioria dos quais foi sequestrada ou detida pelo regime de Assad ou seus afiliados, afirmou ele.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
Saiba quem é o líder rebelde sírio e o grupo que derrubou Bashar al-Assad