A Ucrânia criticou nesta terça-feira (3) um acordo firmado há 30 anos, pelo qual renunciou às armas nucleares em troca de garantias de segurança que nunca se materializaram. Ao mesmo tempo, o país se esforça para receber um convite para se juntar à aliança da Otan.
Kiev pede garantias de segurança robustas para se proteger de novas agressões russas, já que o retorno do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, à Casa Branca aumenta os temores de um acordo rápido para a guerra que a deixaria exposta.
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia destacou o Memorando de Budapeste de 1994, que fez Kiev abrir mão do terceiro maior arsenal nuclear do mundo em troca de garantias de segurança, inclusive da Rússia, após a dissolução soviética em 1991.
“Hoje, o Memorando de Budapeste é um monumento à falta de visão na tomada de decisões de segurança estratégica”, escreveu o ministério em um comunicado, marcando o aniversário desta semana do acordo de 5 de dezembro de 1994.
Ele disse que o acordo “deve servir como um lembrete aos atuais líderes da comunidade euro-atlântica de que construir uma arquitetura de segurança europeia às custas dos interesses da Ucrânia, em vez de levá-los em consideração, está fadado ao fracasso”.
A Ucrânia denuncia o memorando desde 2014, muito antes da invasão de 2022, quando tropas russas tomaram e anexaram a península da Crimeia, antes de apoiar grupos paramilitares no leste.
Os combates no leste da Ucrânia, que mataram milhares de pessoas, foram levados a um cessar-fogo desconfortável, seguido por dezenas de rodadas de negociações sob o que ficou conhecido como acordos de Minsk.
Mesmo depois de quase três anos de guerra total, Kiev se opõe à perspectiva de um retorno a negociações semelhantes que poderiam resultar em um cessar-fogo temporário, mas deixam em aberto a possibilidade de uma nova invasão russa.
“Chega do Memorando de Budapeste. Chega dos Acordos de Minsk. Duas vezes é o bastante, não podemos cair na mesma armadilha uma terceira vez. Simplesmente não temos o direito de fazer isso”, disse o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Kiev quer que os membros da Otan enviem um convite durante uma reunião dos ministros das Relações Exteriores da aliança que começa na terça-feira (3), enquanto a invasão se aproxima de sua marca de três anos e a Rússia avança no campo de batalha.
A declaração do Ministério das Relações Exteriores apelou aos Estados Unidos e à Grã-Bretanha, signatários do memorando de 1994, bem como à França e à China, que, segundo ele, também aderiram a ele, para apoiarem o fornecimento de garantias de segurança à Ucrânia.
“Estamos convencidos de que a única garantia real de segurança para a Ucrânia, bem como um impedimento a novas agressões russas contra a Ucrânia e outros estados, é a plena adesão da Ucrânia à Otan”, afirmou.
A Rússia critica a ideia da integração da Ucrânia na Otan e diz que é uma ameaça inaceitável à segurança.