É sempre de bom tom elogiar o anfitrião e o dono da festa. Foi o que os participantes do G20 fizeram hoje na cúpula no Rio de Janeiro, aprovando uma declaração alinhada com temas que o presidente Lula gostaria de destacar no cenário internacional, como uma aliança contra a pobreza e a fome, além de uma proposta de taxação de super-ricos.
Não foi difícil. A rigor, ninguém é a favor da fome, da pobreza ou da desigualdade tributária.
O difícil mesmo foi gastar 50 minutos lendo os 85 parágrafos de uma declaração que condena agressões sem identificar os agressores, ou que defende paz e boa vizinhança sem apontar quem começa guerras e ataca vizinhos.
Em busca de um denominador comum entre países com posições irreconciliáveis, o G20 acabou se parecendo com a ONU: cheio de discursos de boas intenções, repleto de palavreado pomposo, mas carente de decisões concretas para abordar a perigosíssima situação internacional.
O encontro no Rio foi esvaziado pela eleição americana e, mais recentemente, pela crise política na Alemanha, que deixaram duas delegações — a da maior potência militar do planeta e do país central da União Europeia — ainda à espera de seus chefes.
Vladimir Putin também não veio; o Brasil teria de prendê-lo.
O fundo para a foto oficial foi a magnífica paisagem do Rio de Janeiro, num lindo dia de sol.
Mas havia uma sombra poderosa: a da Guerra Fria 2.0, das três guerras quentes perigosíssimas e da desordem internacional.