O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) recomendou que as secretarias Estadual de Saúde e Municipal de Saúde de Nova Iguaçu refaçam todos os testes de sorologia feitos por pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) no laboratório PCS Saleme.
Em outubro deste ano, foi descoberto que seis pacientes contraíram o vírus HIV após passarem por transplantes de órgãos no Rio de Janeiro. Segundo as investigações, dois doadores teriam feito exame de sangue no PCS Lab Saleme, localizado na Baixada Fluminense, e os resultados deram falso negativo.
Após o caso, o Hemorio já havia refeito todos os testes de HIV realizados pelo laboratório em pacientes transplantados. Porém, o MP pediu que os testes de outras infecções, que tenham sido feitos por qualquer cidadão por meio do SUS, também sejam analisados.
“Os erros de diagnóstico nos exames para detecção de HIV em material de doadores de órgãos para transplantes parecem não constituir episódios isolados”, afirma o MP na recomendação. O órgão aponta, por exemplo, o caso de Tatiane Andrade, que recebeu um resultado falso de positivo para HIV após fazer um exame pelo laboratório depois do parto de sua bebê.
A Secretaria de Saúde do estado afirmou que avalia internamente a necessidade de ampliar a retestagem para demais pacientes.
“A SES-RJ esclarece que já vem empenhando esforços para dar respostas efetivas aos casos de transplantados infectados com HIV. Entre as várias ações está a instalação do Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE). Além das reuniões diárias, o COE acompanhou de perto os testes realizados pelo Hemorio, que não identificaram amostras infectadas com HIV. Os centros transplantadores, em conjunto com a SES-RJ, estão realizando testes em alguns receptores de órgãos por garantia de segurança”, diz a pasta em nota.
Já a Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu (Semus) declarou que desde a interdição do PCS Saleme pela Anvisa, iniciou o protocolo de refazer os exames em todos os pacientes que se sentirem inseguros quanto ao resultado dado pelo laboratório.
“A iniciativa já estava sendo feita antes mesmo desta recomendação do Ministério Público, recebida pela Semus. Todas as Clínicas da Família já estavam orientadas a atender esses paciente com prioridade. Para solicitar, basta procurar a unidade de origem na primeira marcação com documento de identidade ou cartão do SUS”, diz a prefeitura.
A CNN entrou em contato com o laboratório PCS Saleme, mas ainda não houve retorno.
Relembre o caso
Seis pacientes contraíram o vírus HIV após passarem por transplantes de órgãos no Rio de Janeiro.
Segundo as investigações, dois doadores teriam feito exame de sangue no PCS Lab Saleme, localizado na Baixada Fluminense, e os resultados deram falso negativo.
Contratada pelo governo do Rio de Janeiro, o contrato firmado pela Fundação Saúde do RJ em dezembro de 2023 tinha duração de 12 meses, com valor total de R$ 11.479.459,07.
O acordo previa que a Patologia Clinica Doutor Saleme Ltda realizasse análises clínicas e de anatomia patológica.
A Polícia Civil do RJ afirma que os casos de infecção de pacientes com HIV após receberam órgãos transplantados, no Rio de Janeiro, foram causados por falha operacional, com objetivo de obter lucro.
Até o momento, seis pessoas foram presas na Operação “Verum”. Os proprietários do laboratório, Walter Vieira e Matheus Vieira, e quatro funcionários da empresa: Cleber de Oliveira Santos, Ivanilson Fernandes dos Santos, Jacqueline Iris Bacellar de Assis e Adriana Vargas.
Adriana foi presa na segunda fase da operação na manhã deste domingo (20), em Belford Roxo (RJ). Ela é coordenadora técnica do PCS Saleme.
Na ação, a polícia também apreendeu uma máquina de teste de HIV da companhia. As investigações revelaram uma falha grave no controle de qualidade dos testes.
A situação não tem precedentes no Brasil. Apenas no Rio de Janeiro, 16 mil pessoas já passaram por transplantes desde 2006.
Além da polícia do Rio de Janeiro, a Polícia Federal e o Ministério Público do Rio de Janeiro instauraram inquéritos para investigar o caso.