Nestas eleições presidenciais dos Estados Unidos, o resultado será definido de acordo com o desempenho do Partido Democrata, que tem a vice-presidente Kamala Harris como candidata, e do Partido Republicano, representado pelo ex-presidente Donald Trump, nos chamados estados-pêndulo (“swing states” em inglês).
Contudo, três estados americanos, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, de antiga tendência democrata, hoje são estados decisivos para um dos dois candidatos vencerem a disputa.
Para entender melhor, lembre-se que nos Estados Unidos, o vencedor da eleição de cada estado recebe todos os votos dos delegados do Colégio Eleitoral, um sistema conhecido como “o vencedor leva tudo” (ou winner takes all, em inglês). Esse número varia de estado para estado, de acordo com o número de deputados – que muda com base no censo demográfico. Ao todo, são 538 votos e, portanto, para vencer um candidato precisa conseguir 270 (metade + 1) delegados.
Veja relação de delegados por estado:
Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin não possuem uma tendência de escolha clara entre os dois partidos e podem mudar de posição de uma eleição para outra.
De 1992 a 2012, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin faziam parte do Blue Wall (“Muralha Azul” em português), o grupo de 18 estados dos Estados Unidos responsáveis por concederem uma vitória consistente ao Partido Democrata durante 20 anos.
No entanto, em 2016, os três estados abandonaram esse padrão e votaram em Donald Trump. Foi assim que o republicano conseguiu 307 votos dos delegados e venceu a eleição que disputava contra a democrata Hillary Clinton.
Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM, explica um dos motivos que influenciaram esse cenário, indicando a figura de Trump em específico como fator determinante para essa mudança de 2016.
“A mensagem que ele (Trump) traduzia era de medo, dirigida aos eleitores sem diploma universitário, que encontravam uma grande dificuldade no mercado de trabalho”, apontando este último como uma consequência da ampla automatização e digitalização da economia americana.
“Estas áreas começaram a se tornar economicamente decadentes e estão passando por mudanças demográficas”, afirma Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper.
Além disso, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin estão localizados no Cinturão da Ferrugem, região no nordeste dos Estados Unidos, que teve o setor da indústria muito bem desenvolvido até o século 20, mas que depois enfrentou um declínio da economia.
Leandro Consentino salienta que o nome faz referência às máquinas das fábricas locais abandonadas, ao desemprego e ao empobrecimento.
“A população, descontente, deixa de projetar anseios nas mensagens dos democratas e passa a enxergar nos republicanos uma representação melhor de seus interesses”, na esperança de reverter o cenário, comenta Consentino.
“Esses três estados têm forte tradição industrial e agrícola, isto é, de economia braçal. Enquanto os democratas enfatizavam livre comércio e pautas de identidade e minorias, Trump falava em tarifar os produtos chineses e reduzir a imigração para proteger os postos de trabalho e a renda dos trabalhadores”, analisa Felippe Ramos, PhD em Sociologia pela New School for Social Research de Nova York. Ele reforça que o discurso e a agenda eleitoral do candidato era frisando o trabalhador comum.
Já em 2020, o cenário mudou novamente e os eleitores voltaram para o lado democrata, o que evidencia essa volatilidade, de instabilidade política e econômica, “de ir para lá e para cá”, dependendo do contexto – como o próprio nome estados-pêndulo indica.
O atual presidente americano, Joe Biden, recuperou o eleitorado dessas regiões e conseguiu 303 votos dos delegados.
“(Em 2020) Biden foi capaz de, no limite, recuperar esses estados justamente por sua raiz moderada e pró-trabalho”, apontou Felippe Ramos.
A relevância e prioridade de Michigan, Pensilvânia e Wisconsin é vista através do foco em publicidades e visitas dos candidatos nos três estados durante o período de campanha eleitoral.
Desde que Kamala Haris se tornou a candidata democrata, após Joe Biden desistir da reeleição em julho, os dois partidos gastaram mais dinheiro em publicidade na Pensilvânia do que em qualquer outro lugar, com Michigan em segundo lugar e Wisconsin em quarto, segundo dados fornecidos pelo AdImpact, um serviço de rastreamento de publicidade.
Os três estados também ocupam o primeiro, segundo e quarto lugar na quantidade total de publicidade que as campanhas planejaram até novembro.
E quais os desafios para os dois partidos?
Para o professor Consentino, o Partido Democrata precisa mostrar que possui uma proposta econômica eficaz para entregar o que esta classe procura.
“Os quatro anos de Joe Biden garantiram uma economia satisfatória, mas não conseguiram devolver para boa parte dos americanos a ideia de um sonho americano”, conclui.
Na visão de Consentino, Donald Trump, sob o slogan do MAGA (Make America Great Again), “FAÇA A AMÉRICA GRANDE DE NOVO” em tradução livre, entrega algo que os democratas não conseguem “vender no momento”. E, simultaneamente, dialoga com um público americano mais tradicional e conservador, tentando minar as bases de Kamala Harris.
O professor Trevisan sinaliza para “um discurso democrata que, depois de 20 anos, não faz mais tanto sentido”.
De maneira geral, é como se esses três estados, com suas características tanto rurais quanto urbanas, representassem a polarização do eleitorado americano como um todo neste momento.
Mas, Leandro Consentino lembra que “cada um tem sua especificidade local, e que há áreas nacionais essencialmente democratas e outras republicanas”.
“A Pensilvânia, por exemplo, é um microcosmos dos Estados Unidos. Possui cidades muito grandes e desenvolvidas, industrializadas e, ao mesmo tempo, cidades pequenas”, Trevisan exemplifica.
Os dois candidatos à corrida presidencial pela Casa Branca aparecem tecnicamente empatados nestes estados em um compilado de pesquisas e médias divulgadas recentemente no intuito de analisar e tentar prever as possíveis perspectivas para janeiro de 2025.
Para Felippe Ramos, os três estados são verdadeiros “campos de batalha”. “Por isso que se fala que esta eleição está, estatisticamente, similar a um cara e coroa de moeda”, comparou.
Com informações da CNN Internacional
*Sob supervisão de Gabriella Lodi, da CNN
O que é o Colégio Eleitoral das eleições dos EUA?