O ministério das Relações Exteriores da Venezuela esclareceu em comunicado nesta terça-feira (15) que as falas do procurador-geral do Ministério Público do país, Tarek William Saab, de que Luiz Inácio Lula da Silva teria sido “cooptado pela CIA” não representam a posição do governo de Nicolás Maduro sobre o presidente brasileiro.
“As recentes declarações emitidas pelo procurador-geral da República sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva correspondem a opiniões de caráter personalíssimo e de nenhuma maneira refletem a posição do Executivo Nacional, responsável pela política exterior venezuelana”, diz a nota.
A chancelaria também enfatizou que ratifica “o respeito absoluto à trajetória histórica do presidente Lula da Silva e sua liderança no Brasil”.
O próprio procurador-geral expressou, em comunicado publicado em redes sociais, que sua fala sobre Lula não pode ser atribuída ao governo Maduro.
Segundo ele, veículos estrangeiros orquestram uma “campanha”, na qual “tiram de contexto” e “manipulam à sua conveniência para distorcer” sua opinião sobre o presidente brasileiro.
Em uma entrevista à televisão no domingo (13), Saab, declaradamente chavista, acusou o presidente brasileiro de ter se tornado “porta-voz” da “esquerda cooptada pela CIA”, a agência de inteligência dos Estados Unidos.
“Essa esquerda cooptada pela CIA e pelos Estados Unidos na América Latina tem dois porta-vozes”, alegou o procurador, referindo-se ao presidente chileno, Gabriel Boric, e a Lula.
De acordo com Saab, o chefe de Estado brasileiro “não é o mesmo que sai da prisão, por tudo o que ele foi acusado, não é o mesmo de jeito algum, nem fisicamente, nem no jeito que se expressa”.
O venezuelano também afirmou ter uma teoria sobre a transformação de Lula. “Para mim, o Lula foi cooptado na prisão, essa é minha teoria. Ele não é o mesmo que foi o fundador do Partido dos Trabalhadores, quem fundou e promoveu os movimentos trabalhistas do Brasil”, comentou, dizendo que ele e Boric são da esquerda “cooptada” pela CIA.
O procurador criticou Lula por não ter reconhecido a suposta vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho.
Os resultados anunciados pelo poder eleitoral e ratificados pela Suprema Corte venezuelana são questionados interna e internacionalmente, já que as atas com os resultados detalhados por mesa de votação nunca foram publicadas.
A oposição alega que atas de seus fiscais partidários dão a vitória para o então candidato opositor Edmundo González, por 67% dos votos.
Entenda a crise na Venezuela
A oposição venezuelana e a maioria da comunidade internacional não reconhecem os resultados oficiais das eleições presidenciais de 28 de julho, anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, que dão vitória a Nicolás Maduro com mais de 50% dos votos.
Os resultados do CNE nunca foram corroborados com a divulgação das atas eleitorais que detalham a quantidade de votos por mesa de votação.
A oposição, por sua vez, publicou as atas que diz ter recebido dos seus fiscais partidários e que dariam a vitória por quase 70% dos votos para o ex-diplomata Edmundo González, aliado de María Corina Machado, líder opositora que foi impedida de se candidatar.
O chavismo afirma que 80% dos documentos divulgados pela oposição são falsificados. Os aliados de Maduro, no entanto, não mostram nenhuma ata eleitoral.
O Ministério Público da Venezuela, por sua vez, iniciou uma investigação contra González pela publicação das atas, alegando usurpação de funções do poder eleitoral.
O opositor foi intimado três vezes a prestar depoimento sobre a publicação das atas e acabou se asilando na Espanha no início de setembro, após ter um mandado de prisão emitido contra ele.
Diversos opositores foram presos desde o início do processo eleitoral na Venezuela. Somente depois do pleito de 28 de julho, pelo menos 2.400 pessoas foram presas e 24 morreram, segundo organizações de Direitos Humanos.