Nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, o resultado muitas vezes é decidido em alguns estados que não têm uma inclinação partidária consistente. Esses estados são conhecidos como estados-pêndulo, no inglês “swing states” ou “battleground states”.
Assim como o nome indica, os estados-pêndulo, “balançam” de um lado para o outro, dependendo do ciclo eleitoral. O professor de Relações Internacionais da Faap Lucas Leite explica que a metáfora de um pêndulo é justamente porque esses estados “não tem necessariamente uma identificação ideológica ou partidária fixa”.
Cientista político e professor do Insper, Leandro Consentino analisa que estados-pêndulo são considerados a grande incógnita da eleição. “A cada nova eleição os resultados variam. São estados que a gente não sabe antever até o momento da eleição para qual lado darão a vitória”.
Assim como observa-se no mapa interativo acima, os estados-pêndulo não possuem uma tendência ou tradição em relação ao voto. Diferentemente de estados como Nova York, que tradicionalmente vota nos democratas, ou Texas, que tem a tradição de favorecer os republicanos, os estados-pêndulo são territórios de alta imprevisibilidade.
O professor Carlos Gustavo Poggio, do Berea College, no entanto, explica que essa configuração dos estados americanos nem sempre foi assim.
A Califórnia, por exemplo, já foi um estado republicano no passado, mas considera-se um estado-pêndulo aquele que varia de um partido ou outro em seguidas eleições ou em uma margem muito pequena de votos.
Lucas Leite ilustra o conceito pelo exemplo da Geórgia, um estado que foi decisivo para a vitória do democrata Joe Biden em 2020, onde a margem de diferença de votos foi muito baixa, em menos de 0,3%.
Arizona e Geórgia são estados-pêndulo que costumavam votar mais com republicanos, pelo menos a Geórgia era muito comum ter o voto republicano. Agora, o estado se tornou justamente um estado-pêndulo e tem mudado eleições, como na vitória de Joe Biden em 2020.
Fatores que tornam um estado pêndulo
As questões demográficas e urbano-rural, segundo Leite, são, na maioria das vezes, determinantes para a tendência de voto da região.
“Enquanto a zona rural permanece muito próxima aos republicanos, em uma perspectiva mais religiosa, conservadora, nos centros urbanos a gente percebe um eleitor mais progressista ou pelo menos não tão conservador, com um apelo um pouco diferente de temas que são caros a esses grupos”, explica.
A professora de Relações Internacionais da ESPM Denilde Holzhacker esclarece que as mudanças sociais e populacionais também são fatores que influenciam a tendência de votação do estado. Ela explica usando o exemplo do Arizona e da Flórida:
“Teve uma mudança muito grande nos últimos anos na população no Arizona, então o que era tradicional para pró-republicanos mudou para ser democrata, mas mesmo assim ainda ele se mantém como um pêndulo, por não ter a certeza se esse é um processo que vai se perdurar”.
“A Flórida, como outro exemplo, por muitos anos, era um estado-pêndulo, porque tinha uma concentração de latinos, que eram mais democratas do que republicanos. Mas, nas últimas eleições, o estado se consolidou como um estado pró-republicano”, ela acrescenta.
Quais são os estados-pêndulo e por que importam?
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Projeções da CNN para eleição de 2024 • CNN
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Resultado eleições 2020 • CNN
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Resultado eleições 2016 • CNN
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Nas imagens, observa-se as projeções da CNN da configuração dos estados para as eleições dos Estados Unidos.
Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin, indicados pela cor amarela, são os estados-pêndulos. E, para Kamala ou Trump vencer a disputa, é imprescindível que eles conquistem os votos dessas regiões.
A importância dos estados-pêndulo se deve ao sistema de votação do Colégio Eleitoral dos Estados Unidos, que é de voto indireto. Em vez de a população votar diretamente no candidato que quer eleger para a Presidência, acaba elegendo os “delegados” do partido em um estado.
Cada estado tem um número de “delegados” proporcional à sua população, totalizando 538, incluindo 3 para o Distrito de Columbia.
“Então o que vale é a vitória nos estados. Se um democrata ganhar o estado da Califórnia por um milhão de votos ou por um voto não faz diferença nenhuma em termos do fato de que esse candidato democrata vai levar todos os votos do estado da Califórnia. Todos os votos que a Califórnia tem no colégio eleitoral”, Poggio explica.
Apesar de aparentar visualmente que o mapa indica uma maior quantidade de estados republicanos, coloridos pela cor vermelha, a disputa entre os candidatos presidenciais está acirrada. Isso porque a quantidade de votos no Colégio Eleitoral varia entre os estados. A Califórnia, por exemplo, possui 54, um número maior que a combinação de Michigan, Geórgia, Nevada e Carolina do Norte.
Mas então por que a Califórnia não é considerado um estado decisivo e Michigan, Geórgia, Nevada e Carolina do Norte são?
Lucas Leite analisa que essas regiões tem o poder de “mudar o jogo” exatamente porque o apoio do eleitorado pode facilmente oscilar de um ciclo eleitoral para o outro. E é essa falta de previsibilidade os transforma em verdadeiros campos de batalha políticos.
Já a Califórnia é tradicionalmente um estado democrata, então já é esperado que esses votos sejam garantidos pelo candidato desse partido.
Além disso, na maior parte dos estados – com exceção de Maine e Nebraska – o vencedor computa a totalidade do número de votos daquela região, mesmo que por uma margem pequena.
“O ‘The winner takes all’ significa que quem ganhou fica com tudo para cada estado”, lembra Denilde Holzhacker. Nesse sentindo, acrescenta Poggio, para ser eleito presidente dos Estados Unidos um candidato precisa alcançar a maioria dos votos no Colégio Eleitoral, ou seja, é necessário ter 270 votos — metade mais um — o famoso “número mágico“.
Esse sistema faz com que a eleição não dependa diretamente do voto popular nacional, mas sim dos resultados dos estados-pêndulo, onde a disputa é acirrada. Isso torna a conquista desses estados uma estratégia central, já que eles podem decidir o resultado da eleição presidencial.
Nesse sentido, o professor Carlos Gustavo Poggio explica que os candidatos adaptam as estratégias de campanha para a tendência e perfil específicos daquele estado em comparação com a campanha nacional.
“Nos estados-pêndulo o tom é para atrair os eleitores indecisos isso porque nesses estados muitas pessoas não decidiram em quem votar”, afirma o professor Lucas Leite.
Nessas regiões, o discurso dos candidatos geralmente é mais moderado e há uma maior alocação de custos e recursos, acrescenta Leite.
Projeções para a eleição de 2024
A análise atual mostra que quatro estados (Michigan, Geórgia, Nevada e Carolina do Norte), com um total de 53 votos no Colégio Eleitoral, mudaram de uma inclinação republicana para de indecisos. Assim, sete estados e um distrito de Nebraska, com 94 votos no Colégio Eleitoral, são considerados pêndulos.
Segundo as projeções eleitorais, Trump deve ganhar em 24 estados e um distrito no Maine, que lhe dão 219 votos no Colégio Eleitoral, 51 a menos dos 270 necessários para vencer.
Enquanto isso, Kamala deve vencer em 19 estados mais o Distrito de Columbia, somando 225 votos, 45 votos a menos do necessário.
Para Trump, é crucial manter os estados que venceu em 2020 e reconquistar Geórgia e Pensilvânia, enquanto Kamala deve manter os estados do “Muro Azul” para alcançar os 270 votos no Colégio Eleitoral necessários.
As projeções da CNN são baseadas em pesquisas e consultas com assessores e políticos de ambos os partidos, refletindo um cenário eleitoral altamente competitivo. Elas se referem ao atual do cenário do colégio eleitoral no que indica outra eleição presidencial acirrada e não se trata de uma previsão de como as coisas vão acontecer em novembro.
Confira a relação dos estados abaixo:
- Republicano Sólido: Total 188 Votos no Colégio Eleitoral
Alabama (9), Alasca (3), Arkansas (6), Idaho (4), Indiana (11), Iowa (6), Kansas (6), Kentucky (8), Louisiana (8), Mississipi (6), Missouri (10), Montana (4), Nebraska (4), Dakota do Norte (3), Ohio (17), Oklahoma (7), Carolina do Sul (9), Dakota do Sul (3), Tennessee (11), Texas (40), Utah (6), Virgínia Ocidental (4), Wyoming (3)
- Tende a ser republicano: Total 31 votos no Colégio Eleitoral
Flórida (30), Maine 2º Distrito Congressional (1)
- Pêndulo: Total 94 votos no Colégio Eleitoral
Arizona (11), Geórgia (16), Michigan (15), Nebraska 2º Distrito Congressional (1), Nevada (6), Carolina do Norte (16), Pensilvânia (19), Wisconsin (10)
- Tende a ser democrata: Total 50 votos no Colégio Eleitoral
Colorado (10), Minnesota (10), Nova Hampshire (4), Novo México (5), Oregon (8), Virgínia (13)
- Sólido Democrático: Total 175 Votos no Colégio Eleitoral
Califórnia (54), Connecticut (7), Delaware (3), DC (3), Havaí (4), Illinois (19), Maine (3), Maryland (10), Massachusetts (11), Nova Jersey (14), Nova York (28), Rhode Island (4), Vermont (3), Washington (12)
Cenário acirrado entre Kamala e Trump
A reta final da campanha presidencial americana de 2024 começa com um cenário disputado em seis estados-pêndulo, de acordo com novas pesquisas da CNN conduzidas em agosto pela SSRS em cada região.
A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, tem uma vantagem sobre o ex-presidente Donald Trump entre os prováveis eleitores em Wisconsin e Michigan, enquanto Trump lidera no Arizona.
Os dois dividem quase igualmente os eleitores prováveis na Geórgia, Nevada e Pensilvânia, sendo este último o estado com o maior número de votos no Colégio Eleitoral, amplamente visto como uma disputa aberta.
Os resultados sugerem um cenário do Colégio Eleitoral no qual Pensilvânia e Geórgia são centrais para o caminho de cada candidato à Casa Branca. O presidente Joe Biden venceu todos esses seis estados em 2020 (com exceção da Carolina do Norte) ganhando na Geórgia por pouco menos de 12 mil votos e no Arizona por pouco mais de 10 mil votos.
Poggio analisa que a entrada de Kamala na disputa transformou o cenário pelo entusiasmo renovado dos democratas. Dado que o voto nos Estados Unidos é facultativo, o incentivo renovado aumentou as vantagens da vice-presidente. As pesquisas indicam, por exemplo, um ganho entre os eleitores mais jovens.
“No início do pleito, quando Joe Biden ainda era candidato, Trump era favorito e se tornou ainda mais favorito diante de um acontecimento inusitado que foi o atentado” lembra Leandro Consentino.
Contudo, ele explica que outro evento inesperado foi quando Biden desistiu da candidatura à reeleição e a vice-presidente foi nomeada pelo Partido Democrata. “Desde então Kamala Harris está na dianteira, inclusive em alguns estados-pêndulo”, acrescenta.
“A fotografia é do hoje, mas como estamos distantes alguns meses da eleição (5 de novembro) tem que tomar cuidado para fazer previsões”, Leandro Consentino destaca.
Nesse aspecto, os especialistas concordam: ainda não há um líder claro para vencer as eleições dos Estados Unidos.
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