O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que não guarda mágoas em relação a outros democratas que exigiram que ele desistisse da corrida de 2024, ao entregar seu bastão à vice-presidente Kamala Harris em um discurso na Convenção Nacional Democrata nesta terça-feira (20).
“Toda essa conversa sobre como estou bravo com todas as pessoas que disseram que eu deveria renunciar — isso não é verdade”, disse Biden, enquanto a multidão gritava “Nós amamos Joe”.
“Eu amo meu país mais e precisamos preservar nossa democracia”, acrescentou.
Em um aceno à sua própria experiência, ele acrescentou: “Como muitos de nossos melhores presidentes, ela [Kamala] também foi vice-presidente.”
Biden descreveu em seu discurso na noite desta segunda-feira os eventos que levaram à sua decisão de concorrer em 2020, incluindo o comício “Unite the Right” de 2017 em Charlottesville, Virgínia.
O democrata sempre disse que os eventos em Charlottesville foram o ponto de virada que o fez querer concorrer à presidência em 2020.
O presidente dos EUA disse: “Acabei de perder parte da minha alma, mas concorri com uma profunda convicção na América. Conheço e acredito em uma América onde honestidade, dignidade e decência ainda importam, uma América onde todos têm uma chance justa e o ódio não tem porto seguro.”
O presidente fala frequentemente sobre a luta pela alma da América, e esse também foi um tema em seu discurso na convenção.
“Estamos em uma batalha pela maior alma da América”, disse Biden.
“América, eu dei meu melhor”, finalizou o presidente.
Homenagem à família
O presidente entrou no palco emocionado após a fala de sua filha Ashley Biden e foi ovacionado pela multidão que segurava cartazes com os dizeres “We love Joe” (“Nós amamos Joe” na tradução livre).
O líder americano começou o discurso agradecendo sua família e em especial a primeira-dama Jill Biden, que discursou minutos antes. “A família é o começo, o meio e o fim. E eu amo todos vocês. América, eu te amo,” disse Biden.
Defesa pela democracia
“Estamos prontos para votar pela liberdade, pela democracia e pela América? Estamos prontos para eleger Kamala Harris e Tim Walz?”, iniciou Biden.
“Não há lugar para violência política”, continuou o líder americano.
Biden disse que os Estados Unidos estão vivendo um momento crítico: “Eu estou diante de vocês agora nesta noite de agosto para informar que a democracia prevaleceu. A democracia deu certo. A democracia precisa ser preservada”.
O presidente relembrou o momento em que decidiu concorrer à presidência, em 2020: “Eu decidi concorrer depois do que aconteceu em Charlottesville”. Em 2017, protestos supremacistas contra os planos de remover homenagem a um general deixaram uma mulher morta.
Biden disse ainda: “Eu perdi parte da minha alma, mas concorri com uma profunda convicção na América. Eu conheço e acredito em uma América onde a honestidade, dignidade, decência ainda importa, uma América onde todos têm uma chance justa e o ódio não tem porto seguro.”
Administração Biden
O presidente Joe Biden relatou as realizações de sua administração durante o discurso.
“Como seu presidente, eu quis manter a América em movimento para frente, não para trás. Para resistir ao ódio e à violência e todas as suas formas, para ser uma nação onde não só vivemos com diversidade, mas prosperamos na diversidade, demonizando ninguém, não deixando ninguém para trás, e nos tornarmos a nação que professamos ser”, disse.
Biden disse que as leis que ele aprovou “fizeram mais pelos estados vermelhos do que pelos azuis”, porque um presidente deve entregar para todos os americanos. Os estados vermelhos se referem as regiões tradicionalmente republicanas e os azuis, democratas.
“Por causa de você – e não estou exagerando – por causa de você, tivemos um dos mais extraordinários quatro anos de progresso de todos os tempos, ponto. E quando digo nós, quero dizer Kamala e eu”, acrescentou.
O líder dos EUA citou uma das maiores críticas dos eleitores americanos à sua administração: a economia. “A Covid não mais as nossas vidas. Fomos de uma crise econômica para a economia mais forte do mundo”.
“A classe média constrói a América”, afirmou Biden ao se referir ao grupo que é foco da campanha de Kamala Harris.
Biden também listou uma série de conquistas de seu governo: criação de milhões de empregos, diminuição da diferença racial, maior cobertura de seguro de saúde, redução dos preços dos medicamentos prescritos, maior competição com chips semicondutores e aprovação de uma lei de infraestrutura.
Crítica a Donald Trump
Biden fez uma série de críticas a Donald Trump durante toda sua fala. “Ele não é digno de ser comandante-chefe, nem agora, nem antes e nem nunca”, afirmou Biden.
O líder americano mirou diretamente no ex-presidente dizendo que Trump “nunca construiu porcaria nenhuma”.
“Pessoal, como podemos ter a economia mais forte do mundo sem a melhor infraestrutura do mundo? Donald Trump prometeu infraestrutura após quatro anos, e ele nunca construiu porcaria nenhuma”, disse Biden.
O presidente frequentemente fala da Lei Bipartidária de Infraestrutura como uma de suas principais realizações de sua presidência.
Ao falar sobre a taxa de violência nos Estados Unidos, Biden disse: “A taxa de homicídio está caindo mais rápido que em qualquer momento da história. Crimes violentos caíram nos níveis mais baixos em 50 anos e o crime continuará diminuindo. Quando a gente colocar uma promotora do Salão Oval ao invés de um condenado na Justiça”.
Cenário internacional
O presidente americano falou das guerras na Ucrânia e em Gaza que marcaram seu governo. “Um líder não deveria se curvar a um ditador, do jeito que Trump abaixa a cabeça para Putin. Eu nunca fiz isso e Kamala Harris nunca irá se curvar”, disse Biden.
“Putin pensou que tomaria Kiev em três dias. Três anos depois a Ucrânia continua livre”, complementou.
“Vamos continuar trabalhando para trazer os reféns para casa. E acabar com a guerra em Gaza e trazer paz e segurança no Oriente Médio”, disse Biden ao mencionar as negociações por um cessar-fogo no conflito entre Israel e o Hamas.
O apoio dos Estados Unidos aos israelenses foi alvo de protestos na porta da Convenção Democrata em Chicago. “Aqueles protestos nas ruas têm um motivo. Muitas pessoas inocentes estão sendo mortas nos dois lados”, complementou.
Desistência da corrida eleitoral
O presidente Joe Biden disse que não guarda rancor de outros democratas que exigiram que ele saísse da corrida eleitoral de 2024.
“Toda essa conversa sobre como eu estou com raiva de todas as pessoas que disseram que eu deveria sair – isso não é verdade,” disse Biden, enquanto a multidão gritava: “Nós amamos Joe.”
“Amo mais o meu país e precisamos preservar a nossa democracia”, acrescentou.
Biden disse ainda: “Precisamos derrotar Donald Trump e eleger Kamala e Tim”.
(Com informações de Elizabeth Matravolgyi e Michael Williams, da CNN)
Biden é primeiro presidente dos EUA a desistir de reeleição em mais de 5 décadas