O presidente russo Vladimir Putin negou nesta quinta-feira (19) que a intervenção de nove anos da Rússia na Síria tenha sido um fracasso, mas expressou preocupação sobre as operações militares de Israel no país desde a derrubada de seu aliado, Bashar al-Assad.
Putin, respondendo a várias perguntas sobre a Síria em uma maratona de entrevista coletiva anual, afirmou que Moscou fez propostas aos novos governantes em Damasco para manter as bases aéreas e navais da Rússia no país.
Em seus primeiros comentários públicos sobre o assunto, ele contou que ainda não havia se encontrado com Assad desde que o ex-presidente fugiu para Moscou no início deste mês, mas que planejava fazê-lo.
Putin minimizou os danos a Moscou causados pela queda do presidente deposto da Síria, alegando que a intervenção militar no país desde 2015 ajudou a evitar que o local se tornasse um “território terrorista”.
Segundo ele, Israel era o “principal beneficiário” da situação atual.
Logo após a queda de Assad, forças israelenses moveram tropas para a zona de amortecimento no lado sírio da linha divisória com as Colinas de Golã ocupadas por Israel e conduziu centenas de ataques aéreos para destruir armas e equipamentos do exército sírio.
“A Rússia condena a tomada de quaisquer territórios sírios. Isso é óbvio”, exclamou o presidente, dizendo que Israel avançou cerca de 25 km e chegou até as fortificações construídas para a Síria pela antiga União Soviética.
Putin também pontuou que a Rússia esperava que Israel deixasse o território sírio em algum momento, mas “tenho a impressão de que eles não apenas não vão sair, como vão reforçar sua presença lá”.
O líder do Kremlin afirmou que a Turquia também estava intervindo em busca de seus próprios interesses de segurança em relação aos combatentes curdos na Síria, considerados como terroristas por Ancara.
“Todos nós entendemos isso. Haverá muitos problemas. Mas estamos do lado do direito internacional e da soberania de todos os países, respeitando a integridade territorial, ou seja, a Síria”, continuou.
Segundo o líder russo, a maioria das pessoas na Síria com quem a Rússia tinha estado em contato sobre o futuro de suas duas principais bases militares no país, apoiavam a permanência, mas as negociações estavam em andamento.
A Rússia havia proposto usar sua base aérea de Hmeimim para entregar ajuda humanitária e também havia retirado quatro mil combatentes iranianos da Síria por essa rota, contou.
Em resposta a uma pergunta de um jornalista americano sobre o assunto, Putin declarou que perguntaria a Assad sobre o destino do repórter americano Austin Tice, que está desaparecido na Síria, e estava pronto para perguntar aos novos governantes sírios sobre o paradeiro de Tice também.