A Rússia agora vê o controle de armas sobre os vastos arsenais nucleares construídos durante a Guerra Fria como algo do passado, devido à falta de confiança entre Moscou e o Ocidente, afirmou o principal general russo, Valery Gerasimov, nesta quarta-feira (18).
A Rússia e os Estados Unidos, de longe as maiores potências nucleares, lamentaram a desintegração do emaranhado de tratados de controle de armas que buscavam desacelerar a corrida armamentista e reduzir o risco de uma guerra nuclear.
Gerasimov acusou os EUA de fomentar conflitos em todo o mundo e afundar os principais tratados de controle de armas da Guerra Fria.
Segundo ele, a Rússia, em resposta, desenvolveria laços com China, Índia, Irã, Coreia do Norte e Venezuela.
“De modo geral, o tema do controle de armas permanece no passado, uma vez que o retorno a um nível mínimo de confiança é impossível hoje em dia, devido aos padrões duplos do Ocidente”, declarou o general, segundo o Ministério da Defesa.
“Sem confiança, é impossível criar um mecanismo eficaz de controle mútuo”, disse. “Muitos países começaram a pensar em medidas de resposta adequadas.”
Os Estados Unidos, que consideram a Rússia e a China as maiores ameaças de Estado-nação ao Ocidente, culpam a Rússia pelo colapso de acordos como o Tratado de Mísseis Antibalísticos de 1972 e o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) de 1987.
Os Estados Unidos se retiraram formalmente do Tratado INF em 2019, citando violações russas que Moscou negou. Antes disso, já haviam se retirado do Tratado ABM em 2002.
Em 2023, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, suspendeu a participação da Rússia no tratado Novo START, que limita as armas nucleares estratégicas de ambos os lados, culpando o apoio dos americanos à Ucrânia.
No entanto, Moscou manteve os limites de ogivas, mísseis e bombardeiros impostos pelo acordo — assim como os Estados Unidos.
Gerasimov informou que a instalação de mísseis dos EUA na Europa e na Ásia está alimentando “uma corrida armamentista ofensiva estratégica”, com um aumento das forças norte-americanas nas Filipinas que preocupa particularmente a Rússia.
Ele pontuou que os russos observaram o aumento da atividade da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos EUA, perto das fronteiras da Rússia.
Depois que a Ucrânia atingiu o território russo no mês passado com mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos, os americanos se tornaram um participante direto no conflito na Ucrânia, acrescentou o general.
Entenda a Guerra entre Rússia e Ucrânia
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e entrou no território por três frentes: pela fronteira russa, pela Crimeia e por Belarus, país forte aliado do Kremlin.
Forças leais ao presidente Vladimir Putin conseguiram avanços significativos nos primeiros dias, mas os ucranianos conseguiram manter o controle de Kiev, ainda que a cidade também tenha sido atacada.
A invasão foi criticada internacionalmente e o Kremlin foi alvo de sanções econômicas do Ocidente.
Em outubro de 2024, após milhares de mortos, a guerra na Ucrânia entrou no que analistas descrevem como o momento mais perigoso até agora.
As tensões se elevaram quando o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou o uso de um míssil hipersônico de alcance intermediário durante um ataque em solo ucraniano. O projétil carregou ogivas convencionais, mas é capaz de levar material nuclear.
O lançamento aconteceu após a Ucrânia fazer uma ofensiva dentro do território russo usando armamentos fabricados por potências ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido e a França.
A inteligência ocidental denuncia que a Rússia está usando tropas da Coreia do Norte no conflito na Ucrânia. Moscou e Pyongyang não negam, nem confirmam o relato.
O presidente Vladimir Putin, que substituiu seu ministro da Defesa em maio, disse que as forças russas estão avançando muito mais efetivamente – e que a Rússia alcançará todos os seus objetivos na Ucrânia, embora ele não tenha dado detalhes.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse acreditar que os principais objetivos de Putin são ocupar toda a região de Donbass, abrangendo as regiões de Donetsk e Luhansk, e expulsar as tropas ucranianas da região de Kursk, na Rússia, das quais controlam partes desde agosto.