A queda de Bashar al-Assad, na Síria, é o capítulo mais recente na história de deposições de governantes no Oriente Médio. Nos últimos 15 anos cinco regimes ditatoriais foram derrubados na região.
Os sírios se unem a Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen em uma luta marcada por conflitos contra longas dinastias que governaram os países por décadas com pouca ou nenhuma participação popular, muitos de forma ditatorial.
Grupos rebeldes, levantes populares e alianças de oposição, são os principais atores nas insurgências que levaram à queda desses líderes e a mudanças governamentais.
Linha do tempo
Tunísia
Zine el-Abidine Ben Ali, da Tunísia, foi o primeiro a ser deposto em 2011 durante a Primavera Árabe, levante que deu início à inédita sequência de destituições nos países árabes. Na época, Ben Ali fugiu do país após 24 anos no poder.
O caso de Mohamed Bouazizi, jovem vendedor de frutas, da cidade Sidi Bouzid, que tomou a atitude desesperada de atear fogo em si para protestar contra as condições opressivas do país, foi o estopim para o início da revolta contra o presidente.
A visita ao jovem no hospital feita por Ben Ali, juntamente com promessas de cortar preços de alimentos básicos, acabar com a censura e garantir que a polícia não usasse munição real contra os manifestantes, não foram capazes de reprimir a crescente agitação.
Após a morte de Bouazizi, que sucumbiu aos ferimentos, inúmeras revoltas foram desencadeadas por toda a Tunísia que se espalharam pelo mundo árabe, levando à mudança de regime na Líbia e no Egito.
Ben Ali foi deposto e condenado a 35 anos de prisão, mas não cumpriu, pois fugiu do país em janeiro de 2011, a medida que os protestos se intensificavam. Exilado na Arábia Saudita, o ex-presidente morreu em 2019, aos 83 anos.
Egito
No mesmo ano, o então presidente do Egito por quase 30 anos, Hosni Mubarak, também renunciou ao cargo após pressão popular inspirada nos protestos que haviam ocorrido na Tunísia.
Em agosto de 2011, Mubarak chegou a ser condenado à prisão perpétua em um julgamento pela acusação de ordenar a morte de mais de 800 manifestantes e por corrupção.
O então ex-presidente foi detido em 2012, cumpriu seis anos de prisão e foi liberto em 2017. Passou então a viver no Cairo, capital do Egito, onde faleceu em 2020, aos 91 anos.
Líbia
Ainda em 2011, Muammar Gaddafi, que estava no poder desde 1969, foi morto brutalmente na Líbia.
Uma onda de manifestações populares pedindo a deposição do governante tomaram conta do país, que reprimiu a população. A Otan e o Tribunal Penal Internacional (TPI) interferiram no cenário.
Após fugir em agosto do mesmo ano, Gadhafi foi capturado por forças rebeldes e morreu com um tiro na cabeça em sua cidade natal, Sirte, na Líbia.
Iêmen
Em fevereiro de 2012, Ali Abdullah Saleh, no Iêmen, que liderava o país desde 1978, renunciou ao cargo sob pressão popular.
Saleh foi substituído pelo seu vice Adbrabbuh Mansur Hadi, e morto em 2017 ao tentar deixar a capital iemenita, Samaã.
Síria
Agora em 2024, neste domingo (8), o mundo presenciou a queda do governo de Bashar al-Assad na Síria, após forças rebeldes tomarem a capital e declararem Damasco “livre”.
A queda da era da família Assad, que começou com seu pai, Hafez al-Assad, em 1971, conclui o arco de levantes que mudaram a configuração do Oriente Médio.
Assad e sua família fugiram da Síria e se encontram abrigados em Moscou, na Rússia, sob asilo humanitária, segundo informações da mídia estatal russa TASS, citando uma fonte no Kremlin.
Entenda o conflito na Síria
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, segundo a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
Saiba quem é o líder rebelde sírio e o grupo que derrubou Bashar al-Assad.