Parlamentares da França disseram que apresentaram um voto de desconfiança contra o primeiro-ministro Michel Barnier nesta segunda-feira (2), preparando uma votação que pode fazer a extrema direita derrubar seu governo em poucos dias.
A moção foi apresentada depois que Barnier tentou aprovar parte do Orçamento de seu governo para 2025, que inclui 60 bilhões de euros (R$ 381,6 bilhões, na cotação atual) em aumentos de impostos.
Ele também propôs cortes de gastos, com o objetivo de reduzir o déficit para 5% no ano que vem e voltar a se alinhar às regras europeias até o final da década.
Barnier, que foi escolhido como líder de um governo minoritário apoiado por centristas e conservadores em setembro, tentou promulgar o Orçamento usando uma cláusula constitucional que lhe permite ignorar uma votação na legislatura.
No entanto, essa manobra, por sua vez, concede aos legisladores a oportunidade de apresentar votos de desconfiança contra ele — e os parlamentares da esquerda, que repetidamente prometeram derrubar o governo de Barnier, fizeram exatamente isso.
Uma votação pré-debate é esperada para esta quarta-feira (4).
“Esta é uma tomada de poder a mais por um governo ilegítimo”, escreveu Mathilde Panot, uma parlamentar de esquerda que se opôs ao governo de Barnier, nas redes sociais.
Ela também fez um aviso ao presidente francês, Emmanuel Macron, escrevendo: “Apresentamos um voto de desconfiança. A queda de Barnier é uma conclusão precipitada. Macron será o próximo”.
Possível caos político
Se a medida contra o premiê for aprovada, ela lançaria a França no caos político. No curto prazo, o projeto de lei orçamentária seria rejeitado, e Barnier e seus ministros serviriam como interinos até que Macron nomeasse um novo primeiro-ministro.
Um colapso do governo também assustaria os mercados financeiros, preocupados se a segunda maior economia da Europa tem tanto a disciplina fiscal quanto a vontade política para colocar suas finanças em ordem.
O déficit orçamentário da França está previsto para atingir 6,1% do PIB em 2024, mais que o dobro do valor permitido pela Comissão Europeia.
Investidores preocupados já consideraram o crédito francês quase tão arriscado quanto o da Grécia.
Le Pen diz que apoia voto de desconfiança
Embora a mudança de Barnier tenha temporariamente apaziguado os mercados e a União Europeia, ela atraiu a ira de Marine Le Pen e seu partido, o Reunião Nacional, de extrema direita.
Ela prometeu se juntar aos parlamentares da esquerda e derrubar Barnier, a menos que ele ceda a várias de suas demandas, das quais ele concordou apenas com algumas.
“Vamos apoiar esse voto de desconfiança, porque os franceses estão fartos de serem maltratados. Eles achavam que as coisas mudariam com Barnier, mas é pior”, pontuou Le Pen a repórteres nesta segunda-feira.
Na semana passada, Le Pen deu a Barnier um prazo até esta segunda para responder às demandas de seu partido.