Um estudo realizado pela SaferNet, organização de defesa dos direitos humanos na internet, revelou que mais de 1,25 milhão de usuários do Telegram no Brasil participam de grupos que comercializam e compartilham imagens de abuso sexual e pornografia infantil.
A pesquisa, divulgada nesta semana, analisou 874 links denunciados por usuários e constatou a persistência de crimes cibernéticos, como a venda de material pornográfico infantil e a divulgação de nudez não consentida, mesmo após denúncias.
A SaferNet atribui a persistência desses crimes à falta de moderação efetiva por parte do Telegram e à complexidade do esquema de pagamentos envolvendo criptomoedas e empresas de fintechs internacionais.
Dados alarmantes
O relatório da SaferNet expõe um cenário alarmante. A plataforma, conhecida por sua criptografia robusta e foco na privacidade, tem sido utilizada por criminosos sexuais para criar um ambiente virtual protegido para a prática de seus crimes.
A SaferNet mapeou os links denunciados e identificou que 17% deles continuavam ativos, com usuários e administradores cometendo diversos crimes. A organização também encontrou 66 novos links com conteúdo criminoso semelhante, demonstrando a escala do problema.
Somente em uma das comunidades ainda ativas com comercialização e distribuição de imagens de abuso e exploração sexual infantil no Telegram, a SaferNet contou 200 mil usuários. No total, os grupos, comunidades, canais e demais links do aplicativo contendo esse tipo de conteúdo contavam com mais de 1,25 milhão de usuários.
A pesquisa da SaferNet culminou em um extenso relatório de 21 páginas, incluindo três anexos técnicos, que foi submetido à Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo. O documento detalha os links denunciados que apresentam indícios claros de crimes, servindo como base para futuras investigações criminais e cíveis.
Plataforma lidera denúncias recebidas por ONG
De acordo com a SaferNet, a plataforma Telegram lidera os acasos de denúncia de “pornografia infantil”, no canal de denúncia da ONG, desde 2021.
Em 2022 e 2023, o Telegram ficou entre os cinco aplicativos mais denunciados por pornografia infantil. Somente em 2023, a SaferNet registrou um aumento de 77% nas denúncias, totalizando 3274 casos.
O que diz o Telegram
Procurado pela CNN, o Telegram chamou de “absurdo” os números de usuários brasileiros em grupos de pornografia infantil, indicados pela ONG. A plataforma alega que mantém um rigoroso sistema para combater ativamente a disseminação desse tipo de conteúdo, além de “tolerância zero” com a prática.
Segundo a empresa, “qualquer mídia enviada no Telegram” é verificada contra materiais relacionados a abuso sexual infantil “por uma equipe de centenas de moderadores profissionais nos últimos dez anos e quaisquer contas que tentem postar esse conteúdo são banidas imediatamente”.
“Além disso, os moderadores são auxiliados por IA [inteligência artificial] e aprendizado de máquina para aprimorar as capacidades de moderação. Quase 42.000 grupos e canais relacionados a CSAM [material de abuso sexual infantil, na tradução para o português] foram removidos até agora em outubro.”
Ainda de acordo com a empresa, “em agosto, os moderadores fizeram uma varredura nos resultados do recurso de pesquisa do Telegram para identificar e remover todo o conteúdo prejudicial que pudesse ser encontrado”.
“As ferramentas de denúncia para usuários também foram expandidas para que os usuários possam especificar mais tipos de conteúdo para um processamento eficiente por moderadores e IA. Estamos expandindo ativamente nossas equipes de moderação e trabalhando em parcerias estratégicas com mais organizações para ampliar os conjuntos de dados de detecção que nossos sistemas usam para identificar proativamente conteúdo prejudicial durante tentativas de publicação.”
Por fim, o Telegram diz que tem um e-mail para recebimento de denúncias contra conteúdos de abuso infantil: stopca@telegram.org. “As denúncias lá geralmente são processadas em duas horas”, diz a empresa.