Os exames de sangue de doadores de órgãos que resultaram em falso negativo para HIV foram assinados por uma profissional Jacqueline Iris Bacellar de Assis. Nos laudos, consta a informação de que ela seria biomédica, porém o número de registro utilizado na assinatura eletrônica pertence a outra pessoa.
A portadora do registro no Conselho Regional de Biomedicina é Júlia Moraes, que não exerce mais a profissão e está com o cadastro inativo desde junho de 2023.
Em nota enviada à CNN, o Conselho Regional de Biomedicina da 1ª Região (CRBM1) informou que acompanha o caso de infecção de pacientes transplantados no Rio de Janeiro.
O órgão confirma que Jacqueline não possui registro e que o número utilizado pertence à profissional Júlia Moraes de Oliveira Lima.
Questionado sobre o caso, o Laboratório PCS Lab Saleme informou que Jacqueline assinou diversos exames nos últimos meses e que, ao ser contratada, apresentou diploma de formação como biomédica.
A empresa divulgou uma suposta troca de mensagens com a funcionária no momento da contratação:
À CNN, o advogado de Jacqueline, José Félix, disse que ela desconhece o documento apresentado pelo laboratório à imprensa. “A senhora Jaqueline tem um diploma de certificação na área de patologia. Ela jamais cursou o curso de biologia medicina. Não tem nenhum diploma da área e desconhece qualquer documento”, afirmou o representante legal.
Consultada, a universidade afirma não emitiu certificado de conclusão de curso de graduação, de qualquer natureza à Jacqueline.
De acordo com a defesa, a profissional atua no laboratório PCS Lab, na Baixada Fluminense, há cerca de um ano como assistente administrativa e não tinha poder para assinar laudos e resultados de exame, os quais, segundo o representante legal, eram recebidos por sua cliente e encaminhados para o médico do laboratório, Walter Vieira, que seria responsável por assiná-los.
Ainda de acordo com o Félix, apesar de trabalhar no laboratório desde 2023, sua cliente teve a carteira assinada há poucos meses.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro realizou uma operação contra o laboratório na manhã da última segunda-feira (14). Walter Vieira, sócio da empresa, e um técnico foram presos. Jacqueline Iris Bacellar de Assis é considerada foragida.
As suspeitas relacionadas à formação da funcionária ainda serão esclarecidas pelos investigadores.
A investigação indica que ouve uma quebra no protocolo de checagem dos reagente químicos, que indicariam a presença do vírus.
Segundo as informações, os reagentes precisam de checagem diária, porém, para maximização dos lucros, o laboratório teria determinado que os testes fossem realizados semanalmente.
André Luiz de Souza Neves, delegado de polícia, afirma que a medida impactou na integridade dos testes.
Relembre o caso de pacientes infectados com HIV
Autoridades investigam a infecção de pacientes com HIV após receberam órgãos transplantados no Rio de Janeiro. O caso é analisado pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da Sáude, Polícia Federal, Polícia Civil e Ministério Público do Rio de Janeiro.
De acordo com reportagem veiculada inicialmente pela BandNews FM, seis pessoas contraíram a doença após passarem pelo procedimento. O caso foi confirmado pela CNN.
Dois doadores teriam feito exame de sangue em um laboratório privado na Baixada Fluminense e os resultados apresentaram falso negativo.
A CNN confirmou que os testes foram realizados pelo laboratório PCS Lab Saleme, que possui sede em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
O laboratório foi contratado pela Secretaria de Estado de Saúde para testar os doadores de órgãos.
Segundo apurou a CNN, os infectados já estão cientes e órgãos de outros 288 doadores estão passando por nova testagem no estado.
É a primeira vez que algo do tipo ocorre no Brasil. Apenas no Rio de Janeiro, 16 mil pessoas já passaram por transplantes desde 2006.