Muita coisa pode mudar em três anos. Pelo menos essa parece ser a mensagem — tanto simbólica quanto estilística — embutida na segunda capa da Vogue de Kamala Harris.
Vestida com um terno de lapela afiada cor mocha (uma peça de Gabriela Hearst de sua própria coleção, de acordo com a Vogue) e uma blusa de cetim ameixa, Kamala assume uma pose de poder relaxada, mas considerada.
Na foto sentada equilibrada em uma cadeira estofada em um tom complementar de azul-bebê, ela está de pernas cruzadas com uma mão no colo e outra no apoio de braço. Ela olha diretamente para a câmera, com seu sorriso irônico característico aparecendo na superfície de seu rosto.
A imagem, da fotógrafa de moda Annie Leibovitz, está muito longe da primeira capa da Vogue de Kamala Harris, em novembro de 2021.
Na época, uma vice-presidente recém-eleita, a democrata foi fotografada de pé, um tanto desajeitadamente, pega no que parecia ser uma risada (quem diria que sua risada efervescente seria usada mais tarde por seus oponentes como um meio de criticá-la).
Ela usava uma jaqueta escura Donald Deal, jeans skinny pretos que chegavam até o tornozelo e um par de tênis Converse de cano baixo. O New York Times chamou a foto de “decididamente pouco extravagante”, enquanto o Hollywood Reporter escreveu que a equipe de Kamala foi “surpreendida” pela imagem.
Uma fonte disse que a equipe da vice-presidente acreditava que a capa a apresentaria posando em um terno azul claro contra um fundo dourado, uma imagem que acabou sendo usada na revista.
A controvérsia na época surgiu quando a imagem de Kamala Harris em seus tênis circulou nas redes sociais. “Ela merece uma capa, mas uma capa muito melhor do que esta”, escreveu um usuário no X.
“Isso já foi impresso? Podemos refazer isso?”, acrescentou outro.
A Vogue divulgou uma declaração logo depois, afirmando: “A equipe da Vogue adorou as imagens que Tyler Mitchell tirou e sentiu que a imagem mais informal capturou a natureza autêntica e acessível da vice-presidente eleita Harris — o que sentimos ser uma das marcas registradas da administração Biden/Harris”.
Desta vez, porém, nem a Vogue, nem a equipe de Kamala pareciam preocupadas em sinalizar sua autenticidade e acessibilidade (a campanha viral de da democrata cheia de memes parece ter lidado com isso).
Em vez disso, a nova capa é formal, mas calorosa. O espectador é colocado no lugar de uma autoridade visitante prestes a cumprimentar Harris — sua mente pode até preencher a próxima cena: Kamala de pé, apertando mãos, sentando-se novamente para discutir política externa.
Olhando para a imagem de Leibovitz, alguém pode se perguntar: em quantas cadeiras, em quantas salas importantes, Kamala Harris deve ter se sentado exatamente assim, e em quantas mais se ela vencer em novembro?
Mas nem todo mundo está convencido. “Eu realmente gostaria que você desse essas oportunidades para as muitas fotógrafas negras incríveis por aí”, escreveu a fotógrafa nigeriana-britânica Misan Harriman nos comentários abaixo da postagem da Vogue no Instagram.
Nos últimos anos, Leibovitz tem sido criticada por sua representação fotográfica de modelos negras e pardas.
Sua sessão de fotos para a Vogue com a atriz Zendaya em abril atraiu manchetes negativas pelo que os críticos consideraram iluminação sem brilho, com alguns argumentando que o tom de pele da modelo parecia cinza e desbotado.
Mas para a maioria dos fãs de Kamala Harris, a segunda capa da Vogue é uma espécie de momento de círculo completo — corrigindo os “erros” percebidos da primeira.
Agora ela está sendo levada a sério, pelo menos em termos de vestimenta: de terno, botas e sem um tênis à vista.