Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, disse esta quarta-feira (11) em entrevista à CNN que a oposição venezuelana falsificou as atas encontradas no site RESULTADOSCONVZLA.COM e que não entregou as atas em sua posse à suposta perícia realizada pelo Supremo Tribunal de Justiça para validar os resultados eleitorais.
“Há registros de pessoas que não votaram, registros de pessoas falecidas votando, registros de pessoas que votaram em um candidato e aparecem em outro. O mais inusitado é que muita gente foi ao QR code e apareceu alguns bonecos ou o endereço de um restaurante”, disse, sem oferecer provas, em entrevista a Fernando del Rincón, da CNN.
Tarek acrescentou que a convocação do candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, respondeu à investigação relativa à publicação da página RESULTADOSCONVZLA.COM. Anteriormente, o procurador-geral havia dito que a página “usurpou a qualidade e a competência que só corresponde ao Poder Eleitoral Venezuelano”.
“(É) uma página apócrifa e falsa. E ele (González Urrutia) publica, divulga em suas redes”, afirmou.
Pressionado por Fernando del Rincón sobre o motivo pelo qual o governo e as autoridades eleitorais não mostraram as atas, o procurador-geral garantiu que o STJ realizou uma perícia de três dias em que o partido no poder “entregou a sua ata”, mas a oposição não.
“O partido do governo entregou as suas atas, eu vi quando as entregaram. A Plataforma Democrática Unitária (partido do qual González era candidato) disse não ter atas. Não fizeram atas, disseram que as atas são feitas pela Súmate, uma empresa privada. (…) Na Venezuela, o poder eleitoral não é o Súmate nem o site: é o Poder Judiciário que concordou com a autoridade eleitoral e o Poder Eleitoral, que deu resultados que proclamaram Nicolás Maduro como presidente”, acrescentou.
No dia 22 de agosto, o STJ, controlado pelo chavismo, validou o anúncio do Conselho Nacional Eleitoral que deu a vitória ao presidente Nicolás Maduro nas eleições presidenciais de 28 de julho, sem detalhar os resultados da sua investigação.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não publicou os resultados detalhados por colégio eleitoral e estação de voto que apoiam o anúncio da vitória do Presidente Nicolás Maduro.
A saída de Edmundo González Urrutia
O promotor prestou declarações sobre a atuação do candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, após a divulgação dos resultados eleitorais. Ele afirmou conhecer em primeira mão a decisão de Gonzáles Urrutia de deixar a Venezuela e garantiu que desde o primeiro momento soube que era um “candidato perdedor”.
“Poucas horas depois de anunciar que não reconheceram os resultados apresentados pela CNE, o Sr. Edmundo González Urrutia dirigiu-se à Embaixada da Holanda”, afirmou.
O Ministério Público (MP) da Venezuela emitiu três intimações para que o candidato presidencial da oposição Edmundo González Urrutia fosse a uma oitiva em relação à investigação sobre a publicação da página RESULTADOSCONVZLA.COM, na qual a oposição afirma que estavam as cópias da atas dos centros de votação e que, segundo o procurador-geral da Venezuela, William Tarek Saab, “usurpou a qualidade e competência que só corresponde ao Poder Eleitoral venezuelano”.
“Ele mandou seu advogado, seu representante legal, falar diretamente comigo. Ele me entregou uma comunicação (…) na qual explicou os motivos pelos quais não compareceu em três convocações anteriores para falar sobre uma investigação em andamento”, afirmou Saab.
Acrescentou ainda que “assinou com a própria letra, com o seu bilhete de identidade e não se declarou presidente eleito de nada porque sabia que tinha perdido”.
A saída de González da Venezuela ocorre cinco dias depois de um tribunal ter ordenado a sua prisão. González rejeitou repetidamente as acusações contra ele.
Segundo disse à CNN o advogado do candidato da oposição, a decisão de Edmundo González de ir para Espanha deveu-se a “decisões urgentes” para preservar a sua vida e liberdade.
Direitos humanos
Depois de ser apresentado a uma longa lista de organizações que afirmam que os direitos humanos não são respeitados na Venezuela, o procurador reconheceu-se como um líder dos direitos humanos e afirmou que estas organizações “têm dois pesos e duas medidas”.
Segundo números do próprio Governo venezuelano, pelo menos 2.400 pessoas foram detidas, incluindo vários menores, e organizações não-governamentais relataram a morte de 24 pessoas no contexto da crise política que o país atravessa após as eleições presidenciais de 28 de julho.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e sua Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão (RELE) condenaram o que descreveram como “práticas de violência institucional” ocorridas na Venezuela.
Segundo Saab, as mortes ocorridas neste contexto têm um autor direto: “A extrema direita os matou”. E acrescentou que “não há uma única denúncia que ligue algum dos assassinados a qualquer órgão de segurança do Estado venezuelano, nem ao PNB, nem ao Sebin, nem à Polícia”.
“A grande maioria dos detidos não exerceu o direito de voto, não estão inscritos na CNE e foram capturados porque temos os depoimentos em massa”.
O procurador-geral disse ainda que essas pessoas eram pagas para sair e queimar bens públicos.