Um tribunal russo condenou nesta terça-feira (3) o físico Alexander Shiplyuk a 15 anos de prisão sob acusação de traição, no caso mais recente contra especialistas que trabalham com o desenvolvimento de mísseis hipersônicos pela Rússia.
Shiplyuk, de 57 anos, era diretor de um importante instituto científico da Sibéria e foi preso em agosto de 2022. Dois de seus colegas, Anatoly Maslov e Valery Zvegintsev, também foram detidos sob suspeita de traição. Maslov, de 78 anos, recebeu uma sentença de 14 anos em maio.
O advogado de Shiplyuk não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Reuters perguntando se o cientista pretendia recorrer da sentença, algo reportado por agências de notícias russas.
O julgamento foi realizado a portas fechadas, como é de praxe em processos de traição na Rússia.
Ao comentar sobre o caso de Shiplyuk e de seus colegas em maio passado, o Kremlin afirmou que eles enfrentavam “acusações muito graves”, acrescentando que o assunto era de competência dos serviços de segurança.
“Líder mundial em mísseis hipersônicos”
A Rússia se autodenomina líder mundial em mísseis hipersônicos, armas de última geração capazes de transportar cargas úteis a até 10 vezes a velocidade do som para atravessar sistemas de defesa aérea.
O trio do Instituto Khristianovich de Mecânica Teórica e Aplicada (ITAM), em Novosibirsk, está entre quase uma dúzia de cientistas que pesquisam essa tecnologia e contra os quais a Rússia abriu processos por traição nos últimos anos.
Duas pessoas familiarizadas com o caso de Shiplyuk disseram à Reuters que o diretor do ITAM era suspeito de entregar material confidencial em uma conferência científica na China em 2017.
As fontes ressaltaram que ele declarou inocência e insistiu que as informações em questão não eram confidenciais e estavam disponíveis gratuitamente online.
Vários outros cientistas russos presos por suposta traição também foram acusados de entregar segredos para a China, de acordo com a imprensa estatal.
O instituto de Shiplyuk, localizado no campus científico Akademgorodok, próximo à cidade de Novosibirsk, afirma em seu site que está registrado como parte do complexo militar-industrial da Rússia.
Dois cientistas norte-americanos que conheciam Maslov e Shiplyuk pontuaram à Reuters no ano passado que os russos presos estavam envolvidos em um elemento do trabalho necessário para construir um míssil hipersônico, um processo que também inclui a integração de sensores, sistemas de navegação e propulsão.