Os líderes de Reino Unido e Alemanha concordaram, durante conversas em Berlim nesta quarta-feira (28), em trabalhar em um tratado “ambicioso” sobre questões que vão desde a defesa até o comércio e que seria parte de uma redefinição das relações britânicas com a União Europeia (UE).
A viagem de dois dias do primeiro-ministro britânico Keir Starmer às principais potências da UE, Alemanha e França, tem como objetivo ajudar o Reino Unido a superar as relações frágeis do governo conservador anterior com os aliados europeus. Starmer, que assumiu o cargo no mês passado, colocou a melhora desses relacionamentos no centro de seus esforços para impulsionar o crescimento econômico do Reino Unido.
Ele classificou o novo tratado de cooperação como uma “chance única para uma geração de proporcionar resultados para os trabalhadores do Reino Unido e da Alemanha”, uma vez que aprofundaria a colaboração em ciência, tecnologia, negócios e cultura, além de aumentar o comércio.
“Quero deixar claro que o crescimento é a missão número um do meu governo”, disse Starmer. “E o que entendemos claramente é que a construção de relacionamentos com nossos parceiros aqui na Alemanha e em toda a Europa é vital para alcançá-lo.”
Starmer, em uma entrevista coletiva ao lado do chanceler alemão Olaf Scholz, disse que uma redefinição de relações não significaria reverter a saída do Reino Unido da UE em 2020 sob o comando dos conservadores, ou reentrar no mercado único ou na união aduaneira do bloco.
“Mas isso significa um relacionamento mais próximo em várias frentes, incluindo a economia, incluindo a defesa, incluindo trocas”, afirmou ele.
Scholz disse que a Alemanha quer aceitar essa mão estendida.
“O Reino Unido sempre foi uma parte indispensável para resolver as grandes questões que afetam toda a Europa”, disse ele. “Isso não mudou desde que deixou a UE.”
Em uma declaração conjunta, Reino Unido e Alemanha disseram que esperam assinar o tratado de cooperação em consultas governamentais “até o início do próximo ano”. Os ministros da Defesa também estavam trabalhando em um novo acordo de defesa, segundo eles, que se seguiria à assinatura de uma declaração conjunta de defesa em julho.
O Reino Unido e a Alemanha, aliados da Otan e os maiores gastadores em defesa da Europa, estão procurando maneiras de aprofundar a cooperação em defesa antes de uma possível redução de apoio militar dos EUA à Ucrânia, caso o ex-presidente dos EUA Donald Trump retorne à Casa Branca no início do próximo ano.
Fator Trump
O candidato presidencial republicano, Donald Trump, advertiu que, se eleito, ele repensaria fundamentalmente “o propósito e a missão da Otan”. Ele também não se comprometeu a enviar mais ajuda à Ucrânia e disse que não defenderia os aliados que não aumentassem seus orçamentos de defesa. Trump está em uma disputa acirrada com a vice-presidente Kamala Harris para a eleição de 5 de novembro.
As preocupações de que os EUA poderiam reduzir o apoio à Ucrânia aumentaram desde que Trump escolheu JD Vance como seu companheiro de chapa. Vance enfatizou sua oposição aos EUA passarem “cheques em branco” para ajudar a Ucrânia a combater a invasão russa que já dura dois anos e meio.
Uma parceria de defesa anglo-alemã poderia se assemelhar ao pacto de Lancaster House entre Reino Unido e França, firmado em 2010, de acordo com as autoridades, com promessas de criar uma força conjunta e compartilhar equipamentos e centros de pesquisa de mísseis nucleares.
Starmer também disse que os dois países aprofundariam a cooperação em desafios sociais que compartilham, como contrabandistas de pessoas, concordando em desenvolver um plano de ação conjunto para combater a imigração ilegal. A questão é um tema quente na Alemanha nesta semana, devido a um ataque na última sexta-feira, no qual um suspeito de ser membro do Estado Islâmico da Síria, de 26 anos, é acusado de matar três pessoas em um ataque com faca.
Starmer viajou a Paris para a cerimônia de abertura das Paralimpíadas na noite da quarta-feira e realizará uma reunião de café da manhã na quinta-feira (29) com executivos de empresas como Thales, Eutelsat, Mistral AI e Sanofi. Ele também conversará com o presidente Emmanuel Macron no Palácio do Eliseu.