Manifestações pacíficas e pressão internacional ainda podem tirar Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, do poder, disse a líder da oposição María Corina Machado nesta terça-feira (27).
A discordância sobre a votação de 28 de julho provocou pressão da comunidade internacional pela divulgação da contagem completa dos votos e protestos que resultaram em mortes, além de ações da procuradoria-geral do país para investigar a oposição e prender jornalistas.
Machado afirmou em uma entrevista à Reuters por chamada de vídeo que a oposição tem uma “estratégia robusta” para reivindicar a vitória. Ela não quis dar detalhes, mas acrescentou que ela e Edmundo González, que foi o candidato opositor na eleição, estão unidos.
“É a coordenação entre as forças internas e externas que vai conseguir a mudança”, pontuou Machado, que apareceu em passeatas, mas segue escondida desde a votação.
“O que resta a Maduro hoje? Um grupo muito reduzido de soldados de alto escalão, o controle de magistrados do (Tribunal Supremo) e armas… ele está semeando o medo”, adicionou.
Questionamentos sobre eleições
A autoridade eleitoral nacional da Venezuela e o Tribunal Supremo de Justiça confirmaram Maduro como o vencedor da eleição, dizendo que ele obteve pouco mais da metade dos votos.
Mas supostas contagens de cerca de 80% das urnas postadas em um site da oposição mostram vitória de González, com 67% de apoio.
Alguns países ocidentais, quase todas as democracias das Américas e órgãos internacionais, como um painel de especialistas da ONU, pediram a divulgação da contagem completa dos votos. Alguns alegaram fraude por parte do partido governista.
O conselho eleitoral ainda não publicou as atas com os resultados detalhados, dizendo que um ataque cibernético no dia da eleição afetou seus sistemas.
Questionada se Maduro, para quem Machado e González deveriam ser presos por incitar a violência em protestos, poderia permanecer no poder com o controle militar, a líder da oposição disse “não, absolutamente não”.
Intimação contra opositor
A fala de Machado ocorre no mesmo dia em que González deve ignorar — pela segunda vez — uma intimação para comparecer ao gabinete do procurador-geral para testemunhar sobre o site da oposição.
Ex-diplomata de 74 anos, González ignorou a primeira convocação na segunda-feira (26). Um mandado de prisão pode ser emitido se ele não se apresentar pela terceira vez.
Segundo Machado, os venezuelanos estão sentindo raiva e dor por causa da repressão e dos profundos problemas econômicos do país.
Perguntada se esses sentimentos poderiam levar a protestos violentos, a opositora ressaltou estar confiante de que os venezuelanos entendem como “administrar nosso poder”.
“Há uma estratégia robusta que estamos desenvolvendo simultaneamente em várias frentes: opinião pública nacional, mantendo nosso povo focado no objetivo”, destacou.
“Não devemos subestimar as pessoas… as pessoas estão informadas, alinhadas, protegendo umas às outras, denunciando os abusos do regime”, acrescentou.
Tanto a oposição quanto o partido governista pediram aos apoiadores para que se manifestem nesta quarta-feira (28), aniversário de um mês da votação.
Autoridades acusaram a oposição de promover a violência, e o procurador-geral Tarek Saab iniciou investigações criminais contra o líder da oposição Machado, González e o site neste mês.