Nos últimos três anos, a polícia ganhou uma parcela ainda maior do total de mortes violentas de crianças e adolescentes. Na faixa de 10 a 19 anos, 14% das mortes violentas intencionais foram provocadas por policiais, em 2021. O número sobe para 17,1% no ano seguinte, e alcançou 18,6% em 2023, segundo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), publicado nesta terça-feira (13).
Apenas no ano passado, 881 crianças e adolescentes foram vítimas da polícia — a segunda maior causa de mortes violentas para a faixa etária, atrás apenas de homicídio doloso. Em três anos, 14.581 pessoas nessa faixa etária morrem de forma violenta nas ruas. A taxa de letalidade provocada pelas polícias entre adolescentes de 15 a 19 anos é 113,9% superior à taxa verificada entre adultos.
No Brasil, quase 17 crianças e adolescentes a cada 100 mil foram vítimas da polícia; taxa que é quase 4 vezes maior no Amapá (65,4), que lidera o ranking entre os estados, seguido por Bahia (43,7) e Espírito Santo (36,4). São Paulo (4,6), Santa Catarina (5,1) e Distrito Federal (5,1) apresentaram as menores taxas. “Uma política de redução de homicídios com foco em crianças e adolescentes precisa, em vários estados, necessariamente considerar o controle do uso da força das polícias como uma variável chave para seu sucesso”, afirma o estudo.
O relatório também aponta que, em média, morrem 10 vezes mais meninos do que meninas. Nos últimos três anos, 83,4% de vítimas eram negras e 16,2% de brancas. Foram perdidas pelo menos 9.092 vidas de pessoas negras por ações policiais. Os dados mostram que o risco de um adolescente negro, do sexo masculino, ser assassinado no Brasil é 4,4 vezes superior ao de um adolescente branco.
Dos jovens com mais de 15 anos, as mortes totais no país são atreladas a características que sugerem envolvimento com violência armada urbana: mais da metade (62,3%) dos casos acontecem em via pública e por pessoas que a vítima não conhecia (81,5%).
Em outro recorte, de crianças até 9 anos, o perfil da violência letal é mais associado a contexto de maus-tratos e de violência doméstica, praticada contra essas crianças pelas pessoas mais próximas a elas, segundo a análise do Unicef. Em 2023, quase metade (44,6%) aconteceu em casa e 82,1% são cometidos por pessoas conhecidas da criança.
*Com informações da Agência Brasil