O presidente russo Vladimir Putin disse nesta segunda-feira (12) que o maior ataque da Ucrânia em território russo desde o começo da guerra tinha o objetivo de melhorar a posição de Kiev para as possíveis negociações de paz e de retardar o avanço das forças russas.
O Exército ucraniano cruzou a fronteira russa na última terça-feira (6) e atravessou algumas áreas no oeste da região de Kursk, ataque surpresa que escancarou a fragilidade das defesas de fronteira da Rússia na região.
Em comentários mais detalhados ao público sobre a invasão até agora, Putin disse que a Ucrânia, “com ajuda de seus mestres ocidentais”, estava tentando melhorar sua posição antes de possíveis negociações.
Ele questionou que tipo de negociação pode ser realizada com um inimigo que ele acusou de ter disparado indiscriminadamente contra civis russos e instalações nucleares.
“A principal tarefa, claro, é que o Ministério da Defesa expulse, retire o inimigo de nossos territórios”, afirmou Putin, acrescentando que as forças russas estavam acelerando seu avanço no restante do principal fronte, de 1.000 km.
“O inimigo certamente receberá uma resposta à altura”, disse.
Ele também afirmou que espera mais tentativas ucranianas de desestabilizar a fronteira ocidental da Rússia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a guerra agora está voltando para a Rússia. Afirmou que o ataque da Ucrânia entre fronteiras foi uma questão de segurança para a Ucrânia e que Kiev havia tomado áreas de onde a Rússia lançou ataques.
Seu principal comandante, Oleksandr Syrskyi, disse que a Ucrânia controlava 1.000 km quadrados de território russo, muito mais do que os números fornecidos por autoridades russas.
Segundo o governador interino de Kursk, Alexei Smirnov, a Ucrânia controlava 28 assentamentos na região, e que a incursão teve 12 km de profundidade e 40 km de largura. Putin disse a Smirnov que o Exército informará sobre esses assuntos e o aconselhou a se concentrar em melhorar a situação sócio-econômica.
Apenas na região de Kursk, 121.000 pessoas já foram embora ou foram retiradas e outras 59.000 estão no processo de serem retiradas. Na região de Belgorod, na Rússia, na fronteira com Kursk, milhares de civis também foram retirados.
Forças ucranianas em Kursk estavam tentando cercar Sudzha, onde o gás natural russo flui para a Ucrânia, com grandes combates em andamento perto de Korenevo, a cerca de 22 km da fronteira, e Martynovka.
Uma fonte russa com conhecimento doa avaliação das autoridades disse que, ao atacar a Rússia, a Ucrânia encoraja a linha-dura russa, para quem negociações de cessar-fogo são uma perda de tempo e que defende que a Rússia deveria avançar muito mais na Ucrânia.
Momento crucial
Autoridades russas afirmam que a Ucrânia está tentando mostrar a seus apoiadores ocidentais que ainda pode realizar grandes operações militares, justamente quando aumenta a pressão sobre Kiev e Moscou para que concordem em conversar sobre o fim da guerra.
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e agora controla 18% do território ucraniano. Até o ataque surpresa, a Ucrânia vinha perdendo território para as forças russas, apesar de centenas de bilhões de dólares em apoio dos EUA e da Europa com o objetivo de deter e até mesmo reverter o avanço russo.
Após mais de dois anos da mais intensa guerra terrestre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, Moscou e Kiev indicaram que estão ponderando sobre possíveis conversas, embora, em público, ainda estejam distantes de um cessar-fogo.
Ambos também estão de olho na eleição presidencial dos EUA, em novembro. Kiev está preocupada com o fato de que o apoio dos EUA pode enfraquecer caso o republicano Donald Trump vença.
Trump disse que acabaria com a guerra, e tanto a Rússia quanto a Ucrânia estão ansiosas para obter a posição de barganha mais forte possível no campo de batalha.
A Reuters informou em fevereiro que a sugestão de Putin de um cessar-fogo na Ucrânia para congelar a guerra foi rejeitada pelos Estados Unidos. Em junho, Putin sugeriu possíveis termos, incluindo exigências para que Kiev desistisse de suas ambições na Otan e retirasse todas as suas tropas de quatro províncias reivindicadas por Moscou.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse no mês passado, após conversas com a China, que Kiev estava preparada para conversas sobre o conflito com a Rússia, desde que a soberania e a integridade territorial da Ucrânia fossem totalmente respeitadas.
Kiev afirma ser vítima de uma apropriação de terras no estilo imperial por parte de Putin e diz que deve obter o controle de todas as terras que perdeu para a Rússia. O Ocidente diz que não pode permitir que Putin vença.