Um grupo de defesa dos direitos humanos apresentou uma petição ao tribunal superior de Israel exigindo informações sobre o paradeiro do diretor de um hospital palestino detido pelo exército israelense.
Hussam Abu Safiya não é visto publicamente desde que foi detido durante uma incursão israelense no final do mês passado que encerrou o Hospital Kamal Adwan – a última grande unidade de saúde em funcionamento no norte de Gaza.
Alguns detidos recentemente libertados disseram à CNN, na segunda-feira (30), que o diretor do hospital está detido juntamente com outros médicos da unidade em Sde Teiman – uma notória base militar no deserto do Negev, em Israel, que funciona também como centro de detenção.
A organização PHRI (Physicians for Human Rights – Israel, ou Físicos por Direitos Humanos, em tradução livre) declarou em comunicado na quinta-feira (02) que apresentou uma petição ao Supremo Tribunal após ter recebido uma resposta a um inquérito do exército israelense que afirmava não ter “encontrado qualquer indicação de prisão ou detenção do indivíduo em questão”.
Entretanto, as Forças de Defesa de Israel (FDI) informaram à CNN que Abu Safiya “foi detido por suspeita de envolvimento em atividades terroristas e por ter um posto na organização terrorista Hamas, enquanto centenas de terroristas do grupo e da Jihad Islâmica se escondiam no Hospital Kamal Adwan, sob a sua direção. Atualmente, é investigado pelas forças de segurança israelenses”.
O jornal fez alegações semelhantes sobre o hospital e o seu diretor na época do ataque às instalações, sem apresentar provas dos relatos.
No início de outubro, as forças israelenses lançaram uma incursão aérea e terrestre em várias partes do norte de Gaza, afirmando que tinham como alvo a presença renovada do Hamas na região. A ofensiva destruiu ruas e as transformou em escombros, matou famílias inteiras e esgotou gravemente as reservas de alimentos, água e medicamentos.
Antes do ataque de 27 de dezembro, os militares de Israel disparavam diariamente contra o Hospital Kamal Adwan e tinham invadido as instalações pelo menos seis vezes desde 5 de outubro, segundo Abu Safiya.
Nos meses anteriores, o médico palestino esteve em contato frequente com a CNN e publicou atualizações sobre o impacto dos ataques a doentes e médicos no Hospital Kamal Adwan. O diretor apelou repetidamente, ainda, à proteção das instalações de cuidados de saúde em Gaza.
Em outro desdobramento, as forças militares israelenses ordenaram pacientes e funcionários do Hospital Indonésio no norte de Gaza a evacuar o local, apesar do fato de muitos pacientes não poderem andar, conforme relatou uma enfermeira do hospital à CNN.
O Hospital Indonésio, que está “fora de operação” conforme a Organização Mundial da Saúde, abriu suas portas para 23 pessoas, incluindo pacientes e funcionários que foram retirados de forma forçada do Hospital Kamal Adwan.
A enfermeira, Rawiya Hussein Tamboora, contou à CNN que o grupo estava novamente sendo retirado à força, incluindo pacientes idosos e pessoas com pernas quebradas.
“As forças militares de Israel estão queimando casas e lares em torno de nós. Todos os dias há disparos atingindo janelas e paredes”, contou a enfermeira.
A CNN procurou as FDI para comentar os episódios.
“Grande risco de tortura”
Ainda na quinta-feira (02), os peritos da ONU afirmaram estar “gravemente preocupados” com o destino do Abu Safiya e apelaram às autoridades israelenses, enquanto potência ocupante em Gaza, para que “respeitem e protejam o direito à vida”.
“As ações heroicas dos colegas médicos palestinos em Gaza nos ensinam o que significa ter feito o juramento médico. São também um sinal claro de uma humanidade depravada que permitiu um genocídio continuasse durante mais de um ano”, informaram os peritos em comunicado.
Mais de 1.057 profissionais de saúde e médicos palestinos foram mortos em Gaza, segundo o mesmo relatório.
A PHRI relatou que “destacou [ao Supremo Tribunal] que este caso faz parte de um padrão mais amplo de não divulgação e de informações pouco confiáveis fornecidas pelas autoridades militares e prisionais israelenses em relação aos palestinos detidos”.
A secretária-geral da Anistia Internacional, Agnes Callamard, escreveu em publicação feita na rede social X na quinta-feira que o grupo de defesa dos direitos humanos está “extremamente alarmado com as últimas informações que recebemos sobre o paradeiro do Dr. Hussam Abu Safiyyah”.
We are extremely alarmed by the latest information we have received regarding the whereabouts of Dr. Hussam Abu Safiyyah, director of Kamal Adwan Hospital. He should now be considered as victim of enforced disappeared, and as such at great risk of torture and ill-treatment.… pic.twitter.com/e1eH2O953j
— Agnes Callamard (@AgnesCallamard) January 2, 2025
Callamard acrescentou que Hussam Abu Safiyyah “corre um grande risco de ser torturado e maltratado”, e exigiu que Israel revele onde ele está.
Um membro árabe do Knesset, o parlamento israelense, enviou uma carta ao ministro da Defesa do país, Israel Katz, pedindo às autoridades que divulguem o paradeiro do Dr. Abu Safiya e questionando por quais acusações ele está detido.
O Dr. Ahmed Tibi pediu para visitar o diretor do hospital palestino “o mais cedo possível” em razão dos “numerosos relatórios de tortura em instalações de detenção, e das dúzias de detidos que morreram nos últimos meses”.