As novas autoridades da Síria lançaram medidas drásticas de segurança nesta quinta-feira em uma região costeira onde 14 policiais foram mortos no dia anterior, prometendo perseguir “remanescentes” do governo deposto de Bashar al-Assad suspeitos de terem cometido o ataque, segundo a imprensa estatal.
A violência na província de Tartous, parte da região costeira que abriga muitos integrantes da seita alauíta de Assad, marcou o desafio mais mortal até agora para as autoridades lideradas pelos rebeldes.
As forças de segurança do novo governo lançaram a operação para “controlar a segurança, a estabilidade e a paz civil, e para perseguir os remanescentes das milícias de Assad nos bosques e colinas” nas áreas rurais de Tartous, segundo a agência de notícias estatal Sana.
Os integrantes da minoria alauíta, uma ramificação do islamismo xiita, exerceram grande influência na Síria liderada por Assad. Eles dominaram as forças de segurança que Assad usou contra seus oponentes durante a guerra civil, que durou 13 anos, e para esmagar dissidências durante décadas de opressão sangrenta.
Refletindo as tensões de cunho sectário, os manifestantes gritaram “Oh Ali!” durante uma manifestação no lado de fora da sede do governo local em Tartous, segundo imagens publicadas nas redes sociais na última quarta-feira. A Reuters verificou a localização das imagens.
O cântico era uma referência a Ali ibn Abi Talib, um primo do Profeta Maomé que é reverenciado pelos muçulmanos, mas especialmente respeitado pelos alauítas e xiitas, que acreditam que Ali e seus descendentes deveriam ter liderado a comunidade islâmica.
O Hayat Tahrir al-Sham, antigo afiliado da Al Qaeda que liderou a campanha rebelde que derrubou Assad, prometeu várias vezes proteger grupos religiosos minoritários, que temem que os novos governantes possam tentar impor uma forma conservadora de governo islâmico.
De acordo com a agência Sana, Mohammed Othman, recém-nomeado governador da região costeira de Latakia, ao lado da área de Tartous, reuniu-se com xeques alauítas para “incentivar a coesão da comunidade e a paz civil na costa síria”.
Recentes protestos na Síria
O Ministério da Informação da Síria declarou a proibição do que descreveu como “a circulação ou a publicação de qualquer conteúdo de mídia ou notícias com um tom sectário destinado a espalhar a divisão” entre os sírios.
A guerra civil síria assumiu dimensões sectárias quando Assad recorreu a milícias xiitas de todo o Oriente Médio, mobilizadas por seu aliado Irã, para combater a insurgência dominada por integrantes da maioria muçulmana sunita, muitos deles islamitas.
Dissidências também surgiram na cidade de Homs, 150 quilômetros ao norte de Damasco. A imprensa estatal informou que a polícia impôs um toque de recolher durante a noite de quarta-feira, após distúrbios ligados a manifestações que, segundo os moradores, eram lideradas por membros das comunidades religiosas alauítas e xiitas.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
Saiba quem é o líder rebelde sírio e o grupo que derrubou Bashar al-Assad