O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, que supervisiona o controle de armas nucleares do país, alertou o novo governo de Donald Trump nesta sexta-feira (27) contra a retomada dos testes nucleares.
Em um sinal explícito aos Estados Unidos, ele afirmou que a Rússia manteria suas próprias opções em aberto em meio ao que ele disse ser a postura “extremamente hostil” dos americanos.
Além disso, pontuou que Trump havia assumido uma posição radical sobre o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT) durante seu primeiro mandato.
“A situação internacional é extremamente difícil no momento, a política americana em seus vários aspectos é extremamente hostil a nós hoje”, Ryabkov afirmou em entrevista ao jornal russo Kommersant.
“Portanto, as opções para agirmos no interesse de garantir a segurança e as medidas e ações potenciais que temos para fazer isso — e enviar sinais politicamente apropriados… não descarta nada”, advertiu.
A retomada dos testes pelas duas maiores potências nucleares do mundo inauguraria uma era perigosa, 80 anos após os Estados Unidos testaram a primeira bomba nuclear em Alamogordo, Novo México, em julho de 1945.
Rússia, Estados Unidos e China estão realizando grandes modernizações de seus arsenais nucleares no momento em que os tratados de controle desses dispositivos, fechados na era da Guerra Fria entre a União Soviética e os Estados Unidos, desmoronam.
Durante o primeiro mandato de Trump como presidente, de 2017 a 2021, o governo americano discutiu se deveria ou não conduzir o primeiro teste nuclear dos EUA desde 1992, informou o Washington Post em 2020.
Em 2023, o presidente Vladimir Putin revogou formalmente a ratificação da Rússia do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT), alinhando seu país com os Estados Unidos.
O CTBT foi assinado pela Rússia em 1996 e ratificado em 2000. Os Estados Unidos assinaram o tratado em 1996, mas não o ratificaram.
Possível teste nuclear
Há temores entre alguns especialistas em controle de armas de que os Estados Unidos estejam caminhando para um retorno aos testes como uma forma de desenvolver novas armas e, ao mesmo tempo, enviar um sinal para rivais como Rússia e China.
A Rússia, com 5.580 ogivas, e os EUA, com 5.044, são de longe as maiores potências nucleares do mundo, detendo cerca de 88% das armas dos tipo, de acordo com a Federação de Cientistas Americanos. A China tem cerca de 500 ogivas.
Nas cinco décadas entre 1945 e o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares, de 1996, mais de 2 mil testes nucleares foram realizados, sendo 1.032 deles pelos Estados Unidos e 715 pela União Soviética, de acordo com a ONU.
A Rússia pós-soviética não realizou um teste nuclear. A União Soviética testou pela última vez em 1990.
Putin afirmou que seu país consideraria testar uma arma nuclear se os Estados Unidos fizerem isso.
No mês passado, o chefe de Estado reduziu o limite para um ataque nuclear em resposta a uma gama mais ampla de ataques convencionais, depois que Moscou destacou que a Ucrânia havia atacado o país com mísseis ATACMS feitos nos EUA.
Desde que a União Soviética entrou em colapso, em 1991, apenas alguns países testaram armas nucleares, de acordo com a Associação de Controle de Armas:
- os Estados Unidos testaram pela última vez em 1992
- China e França em 1996
- Índia e Paquistão em 1998
- e Coreia do Norte em 2017
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