O governo do Brasil acionou as autoridades de Mianmar e da Tailândia para tentar localizar dois brasileiros que foram vítimas de tráfico humano.
Luckas Viana e Phelipe de Moura Ferreira viajaram para Bangkok, capital tailandesa, em outubro e novembro, respectivamente, após terem sido chamados para trabalharem em um cassino e em um call center para uma empresa.
Mas, quando os brasileiros chegaram lá, um carro que os levaria para a suposta empresa os conduziu para um local remoto no sudeste asiático. A partir de então, as notícias sobre o paradeiro deles foram ficando cada vez mais raras e começaram os relatos de sequestro e trabalho forçado.
Ao entrar no veículo que o levaria da capital da Tailândia para o novo posto de trabalho, Phelipe enviou a localização em tempo real para um amigo. Mas, em determinado momento, o GPS foi desligado.
Ao pesquisar o local na internet, os parentes e amigos desconfiaram que Phelipe estaria sendo levado para Mianmar, país que faz fronteira com a Tailândia e um dos principais destinos das vítimas de tráfico humano, segundo autoridades internacionais.
O mesmo já tinha acontecido com Luckas há um pouco mais de um mês. Os dois brasileiros são vítimas da mesma empresa, a KK Park.
O complexo de cinco prédios, conforme descrito por eles, é uma “fábrica de golpes” na qual estrangeiros são atraídos por falsas promessas de emprego e são obrigados a aplicar fraudes cibernéticas através de perfis falsos.
Foi através desses perfis que os jovens conseguiram entrar em contato com os familiares no Brasil, escondidos dos sequestradores. Desde então, eles passaram a mandar mensagens esporádicas aos colegas e familiares, sempre de números diferentes e com textos abreviados para dificultar traduções.
“Quando ele foi para o trabalho, eu comecei a perguntar se ele chegou, se estava tudo bem e ele falou que não. Foi aí que eu comecei a desconfiar”, conta Cleide Viana, mãe de Luckas, sobre os primeiro contato com o filho após o sequestro.
Viana ainda relata que, nas raras mensagens e ligações que recebe do filho, ele fala sobre condições de trabalho escravo e agressões.
No local, eles relatam serem submetidos a até 15 horas de trabalho por dia, agressões e ameaças de morte. Em uma das mensagens enviadas por Phelipe ao pai Antônio, ele cita o medo de ter os órgãos roubados e pensamentos suicidas.
“E ele pede socorro, ele fala que está sendo humilhado, espancado. Eles eletrocutam eles, dão choques, pauladas nas pernas”, afirma Antônio.
Os familiares dizem terem sido informados pelo governo brasileiro que apenas as autoridades locais de Mianmar poderiam resgatar os jovens. O país vive sob ditadura militar há quase quatro anos e, por ser considerada zona de conflito armado, a busca dos brasileiros é considerada uma operação delicada.
O que diz o Itamaraty
Em nota à CNN, o Itamaraty afirmou que acompanha o caso pelas embaixadas do Brasil em Bangkok e Yangon — em Mianmar.
O Ministério das Relações Exteriores também informou que foram realizadas diversas “gestões” junto ao governo de Mianmar, com o objetivo de tentar localizar e resgatar os jovens, mas que a operação compete às autoridades policiais locais.
Tráfico Humano no Mundo
Os brasileiros foram vítimas de tráfico humano para trabalho forçado, uma das modalidades que mais cresceu nos últimos anos de acordo com o Relatório do Tráfico Humano da ONU, ficando atrás apenas da exploração sexual.
Apenas entre os anos de 2020 e 2023, mais de 200 mil pessoas foram vítimas de tráfico humano em todo o mundo.