Haaretz, no domingo (24), citando cobertura crítica da guerra após os ataques do Hamas em 7 de outubro e comentários do editor do veículo pedindo sanções a altos funcionários do governo.
O Haaretz, que é amplamente respeitado internacionalmente, fez uma cobertura crítica da guerra de Israel após os ataques do Hamas, incluindo investigações sobre abusos supostamente cometidos pelas Forças de Defesa de Israel (IDF na sigla em inglês), à medida que as operações militares se expandiam por Gaza e para o vizinho Líbano.
A proposta, apresentada pelo ministro das comunicações, Shlomo Kar’i, acabará com a publicidade do governo no jornal e cancelará todas as assinaturas de funcionários públicos e funcionários de empresas estatais.
O Haaretz descreveu a medida como uma tentativa de “silenciar um jornal crítico e independente”.
Em uma declaração após a votação, Kar’i escreveu: “Não devemos permitir uma realidade em que o editor de um jornal oficial de Israel peça a imposição de sanções contra o país e apoie seus inimigos, no meio de uma guerra, enquanto órgãos internacionais estão minando a legitimidade do Estado de Israel, seu direito à autodefesa e impõe sanções contra o país e seus líderes”.
Amos Schocken, editor do jornal, foi criticado por se referir aos militantes como “combatentes pela liberdade” palestinos durante um discurso em um evento organizado pelo veículo em Londres, em 27 de outubro.
“Ele (o governo Netanyahu) não se importa em impor um regime cruel de apartheid à população palestina. Ele descarta os custos de ambos os lados para defender os assentamentos enquanto luta contra os combatentes da liberdade palestinos que Israel chama de terroristas”, teria dito.
Após críticas generalizadas aos comentários, Schocken esclareceu seus comentários dizendo que não acreditava que os militantes do Hamas fossem combatentes da liberdade.
Em um editorial, o Haaretz disse que Schocken estava se referindo a “palestinos vivendo sob ocupação e opressão na Cisjordânia”.
Ainda assim, ele disse que Schocken tinha “errado” ao se referir a qualquer um que deliberadamente machuque e aterrorize civis como “combatentes da liberdade”, argumentando que o termo correto era “terroristas”.
No discurso, o editor também pediu sanções internacionais aos líderes israelenses como a única maneira de forçar o governo a mudar de curso.
“Em certo sentido, o que está acontecendo agora nos territórios ocupados e em parte de Gaza é uma segunda Nakba”, afirmou. “Um estado palestino deve ser estabelecido e a única maneira de conseguir isso, eu acho, é aplicar sanções contra Israel, contra os líderes que se opõem a ele e contra os colonos.”
Além dos comentários de Schocken no evento de Londres, Kar’i destacou a cobertura do jornal sobre a guerra em sua declaração no domingo (24).
“A decisão veio na esteira de muitos artigos que prejudicaram a legitimidade do Estado de Israel no mundo e seu direito à autodefesa”, declarou o ministro.
No mesmo dia, o Haaretz criticou a ação em uma declaração, chamando-a de “outro passo na jornada de Netanyahu para desmantelar a democracia israelense”.
Quase toda a população de Gaza foi deslocada em meio à nova ofensiva israelense
“Assim como seus amigos Putin, Erdoğan e Orbán, Netanyahu está tentando silenciar um jornal crítico e independente”, colocou na declaração. “O Haaretz não vai recuar e não vai se transformar em um panfleto do governo que publica mensagens pré-aprovadas pelo seu líder”.
A medida ocorre dois meses após os militares invadirem e fecharem o escritório da Al Jazeera em Ramallah e seis meses após o governo fechar as operações da emissora dentro de Israel em maio, provocando condenação das Nações Unidas e grupos de direitos humanos.
Na sexta-feira (22), o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) disse que investigações preliminares mostraram que pelo menos 137 jornalistas e profissionais da mídia foram mortos cobrindo a guerra, tornando-o o período mais mortal para jornalistas desde que o CPJ começou a coletar dados em 1992.