O bombeiro civil Evandro Santos relatou à CNN que passou mal e chegou a conversar com uma psicóloga após receber a notícia de que sua mãe, a cabeleireira Izabel Maria dos Santos Souza, de 63 anos, perderia o globo ocular do lado esquerdo após passar por uma cirurgia de catarata. O procedimento foi feito em um mutirão organizado pela prefeitura de Parelhas (RN).
“Eu fiquei sem chão. É o bem mais precioso que ela tinha, ela é cabeleireira”. lamentou o filho da paciente.
O procedimento foi realizado no dia 27 de setembro, na Maternidade Dr. Graciliano Lordão. De acordo com o relato, Izabel Maria foi para a casa de uma irmã e, a partir do dia seguinte à cirurgia, passou a observar vermelhidão no olho e sentir dores.
No retorno ao médico da empresa responsável pelo mutirão, a Oculare Oftalmologia Avançada, o profissional disse que os sintomas eram normais.
Contudo, o desconforto continuou e a família resolveu levar a cabeleireira a uma consulta particular com uma oftalmologista, que identificou a contração da bactéria Enterobacter cloacae. Além dela, outras 14 pessoas que passaram pelo mutirão apresentaram o mesmo problema. Deste total, oito perderam o globo ocular.
Os médicos informaram aos familiares que Izabel Maria perderia seu olho no dia 3 de outubro. Desde então, a cabeleireira está internada num hospital estadual na capital potiguar.
Segundo a família, os médicos mantiveram a paciente internada e sendo medicada, pois a bactéria se espelhou ligeiramente e atingiu também as pálpebras da idosa. Há risco do problema atingir o cérebro dela.
Entenda o caso
Oito pacientes tiveram a perda do globo ocular após terem realizado cirurgias de cataratas em um mutirão do procedimento oftalmológico promovido pela Prefeitura de Parelhas (RN) no último dia 27 de setembro.
Entre os 20 procedimentos cirúrgicos realizados na Maternidade Dr. Graciliano Lordão, 15 pacientes apresentaram sintomas de endoftalmite, uma infecção ocular causada pela bactéria Enterobacter cloacae.
Destes, oito perderam o globo ocular, quatro precisaram passar por vitrectomia, cirurgia para retirada de um líquido presente no olho, e outros três evoluíram bem ao tratamento, mas ainda não conseguem enxergar.
Segundo a prefeitura da cidade, além de uma notificação formal enviada à empresa responsável pelos procedimentos para possíveis esclarecimentos, a Oculare Oftalmologia Avançada, um inquérito civil foi instaurado para investigar as circunstâncias e responsabilidades do ocorrido.
A Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte também acompanha o caso e esclareceu que as cirurgias foram realizadas a partir de uma contratação feita pela gestão municipal, sem participação do estado.
A CNN entrou em contato com a Oculare Oftalmologia Avançada, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.