Na semana passada, a ONU disse que os militares israelenses atiraram em suas forças de paz, entraram à força em sua base, interromperam a logística e feriram mais de uma dúzia de suas tropas no sul do Líbano.
Os ataques de Israel à missão de manutenção da paz, que opera no Líbano há mais de 45 anos, foram amplamente condenados pela comunidade internacional. A Unifil – a missão de manutenção da paz da ONU no Líbano – chamou as violações de “chocantes”.
Israel acusou o Hezbollah de operar em áreas próximas aos postos da Unifil. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu alertou no domingo que as forças de paz da ONU no Líbano estão em “perigo”. Ele lamentou que alguns soldados da paz da ONU tenham sido feridos na semana passada e pediu ao secretário-geral da ONU, António Guterres, que retirasse os soldados da paz “imediatamente”.
Guterres disse que ataques a soldados da paz “podem constituir um crime de guerra” e que “a Unifil e suas instalações nunca devem ser alvos”. A ONU disse que suas tropas permanecem no Líbano, apesar dos ataques.
Aqui está o que você precisa saber.
O que aconteceu na semana passada?
A sede da Unifil em Naqoura e posições próximas foram repetidamente atacadas por Israel.
Na quarta-feira, a Unifil disse que soldados das Forças de Defesa de Israel (FDI) “dispararam deliberadamente e desativaram” uma posição da ONU em Labbouneh.
Dois soldados da paz ficaram feridos na quinta-feira depois que um tanque das FDI disparou contra uma torre de observação na sede da Unifil, atingindo-a diretamente e fazendo-os cair.
Na sexta-feira, dois soldados da Unifil ficaram feridos após duas explosões acontecerem perto de uma torre de observação. As FDI disseram que estavam respondendo ao que identificaram como uma “ameaça imediata” contra ela, acrescentando que havia instruído o pessoal da Unifil a se mover.
Mais tarde na sexta-feira, um soldado da paz foi baleado em Naquora em meio a “atividade militar”, de acordo com a Unifil, que disse que os edifícios da ONU em Ramyah sofreram “danos significativos” devido a explosões de bombardeios próximos.
No sábado , a Unifil disse que soldados das FDI interromperam um movimento logístico crítico da Unifil perto de Meiss ej Jebel.
E no início do domingo, a Unifil disse que as FDI violaram a lei internacional após recuar seus tanques para seu posto em Ramyah, entrando à força na posição e solicitando que a base desligasse suas luzes. As FDI disseram mais tarde que um de seus tanques recuou para o posto porque estava retirando soldados feridos por um míssil antitanque.
As ações de Israel foram condenadas por vários de seus aliados, incluindo a França e o Reino Unido, que disseram estar “horrorizados” com os relatos de que Israel atacou deliberadamente bases da ONU na semana passada.
A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) foi criada pelo Conselho de Segurança da ONU após a primeira invasão de Israel ao sul do Líbano em 1978.
Seu objetivo era confirmar a retirada das forças israelenses do país, restaurar a paz e a segurança internacionais e ajudar o governo libanês a restaurar sua autoridade efetiva na área.
Em junho de 1982, Israel invadiu o Líbano pela segunda vez e posteriormente estabeleceu uma zona de segurança dentro do país, que permaneceu até sua retirada em 2000.
Em 2000, a Unifil estabeleceu a chamada “Blue Line” (“Linha Azul”, em tradução literal) – uma área que abrange 120 quilômetros ao longo do sul do Líbano para garantir a retirada completa das forças israelenses.
Ela atua como uma fronteira de fato entre os dois países, já que o Líbano e Israel têm uma disputa contínua sobre a fronteira.
As tropas da Unifil têm a tarefa de monitorar violações de fronteira e manter a área, que inclui redutos do Hezbollah, segura.
Embora a Unifil seja uma missão de manutenção da paz, as tropas podem usar a força em certas circunstâncias, incluindo autodefesa, para proteger civis sob ameaça iminente de violência e para proteger instalações e equipamentos do pessoal da ONU.
O objetivo da Unifil é renovado anualmente pelo Conselho de Segurança da ONU a pedido do Líbano. O Conselho de Segurança estendeu o mandato mais recentemente até 31 de agosto de 2025.
Quem compõe a Unifil?
A missão é composta por mais de 10 mil pessoas de 50 países, a maioria das quais são soldados.
Indonésia, Itália, Índia, Nepal, Gana e Malásia contribuem com a maioria das tropas. Espanha, China, Irlanda e França também compõem uma grande presença. Alguns países contribuem com apenas um militar da Unifil, como o Reino Unido, Peru e Nigéria.
Os chamados “peacekeepers” operam em uma área de 1.060 km² entre a Blue Line e o Rio Litani no sul do Líbano. Eles ocupam 50 posições, com a sede da Unifil situada em Naqoura no sudoeste do país.
O Brasil faz parte da Unifil?
De acordo com o site oficial da Unifil, a força da Unifil consiste atualmente em um total de 10.058 “peacekeepers” dos quais 11 foram enviados pelo Brasil.
O número, no entanto, não reflete o envolvimento histórico do Brasil com a missão das Nações Unidas.
Entre 2011 e 2021, o Brasil liderou o braço naval da Unifil, a Força-Tarefa Marítima (FTM), e desdobrou quase 4 mil militares para comporem as forças de paz durante esse período, de acordo com o Itamaraty.
Nesse período, a Marinha brasileira manteve um navio e uma aeronave orgânica em apoio à Unifil na costa libanesa para impedir entrada de armas ilegais e contrabandos, além de contribuir com treinamentos para a Marinha libanesa.
Foram 18 participações de navios da Força Naval do Brasil, com os militares sendo substituídos a cada seis meses.
* Com informações de Léo Lopes, Kara Fox, Eugenia Yosef e Nadeen Ebrahim, da CNN